domingo, 29 de agosto de 2010

A avaliação das escolas.

Escolas no Brasil se dividem em públicas e privadas, em todos os níveis, desde o primeiro e segundo graus, passando pelo ensino universitário e atingindo a pós-graduação. No segundo grau, já há pelo menos trinta e cinco anos, domina a iniciativa privada. No ensino superior, tentativas de privatização não faltam, tanto no ensino de graduação como no de pós-graduação.

Um tremendo contrassenso, as escolas de primeiro e segundo graus, com professores mais satisfeitos e seus estudantes mais bem preparados dominam os exames de ingresso superior. Raras e bem vindas exceções surgem dentro do ensino superior público, o estudante esforçado e dedicado da escola de pública de segundo grau que contrariando as adversidades tem a ousadia de querer fazer parte da elite pensante do país.

Costuma-se avaliar as pessoas e instituições de ensino umas com as outras. Ora, essa não é uma forma justa de avaliação, é preciso comparar a escola com ela mesma. É preciso ter em mãos os recursos que esta escola tem à sua disposição e o que foi feito com esses recursos em prol de seus estudantes, esta é a forma justa de avaliar.

É preciso inventariar os recursos materiais da escola e os recursos humanos (os pais dos alunos, os corpos discente, docente e de servidores) e o quanto é investido no preparo dos estudantes para comparar a escola com ela mesma. É natural que uma escola que tenha um valor muito menor desses recursos vá ter um desempenho menor em sua avaliação final. Mas será que ambas não tem índices de desempenho semelhantes?

Resumindo, qual foi o preparo que este estudante tinha quando aqui chegou? Faça amostragem de seu progresso a cada ano. Compare agora com o seu conhecimento ao se candidatar para ingresso no ensino superior. Quanto foi gasto nesta escola para o preparo deste estudante? Esta é a forma mais correta, comparar a escola com ela mesma. Que seja incluído no índice de desempenho aspectos que mostrem também os recursos despendidos em seus estudantes e o resultado final.

Talvez tenhamos uma surpresa e finalmente descobriremos que não é preciso gastar muito para preparar bem nossos jovens. Afinal nossos pais viveram em uma época de nenhuma tecnologia, onde o suprassumo da tecnologia era o sonho de ter um rádio à válvula para escutar o “Repórter Esso”. E minha mãe, já no Século XXI, somente com o primeiro grau escrevia excelentes cartas e não fazia feio nas contas do supermercado.

É preciso também mecanismos para detectar e ajudar os mais necessitados, pois estes se não forem socorridos serão relegados ao ostracismo de serem sempre os piores. Junto com os mecanismos de avaliação é preciso haver mecanismos de correção para que aquelas escolas que não tiverem usando bem seus recursos, sejam elas públicas ou privadas, possam corrigir a trajetória e voltar a ter índices compatíveis com os investimentos feitos. Mas para isso precisamos eliminar a cultura da punição e nos voltarmos para a cultura da premiação.

Os professores precisam estar preparados para usar novas tecnologias, e que tenham orgulho da carreira de magistério. Pergunte ao seu filho se ele quer ser professor. Hoje, não é possível ensinar se o professor não tiver acesso à internet, jornais, revistas e bons livros. O poder aquisitivo é muito importante nesse aspecto. Da forma como encaramos a educação é impossível querer ter os profissionais preparados que necessitaremos no futuro. E não digam que nós professores não avisamos.

Publicado na Coluna Opinião do Jornal Correio de Uberlândia em 07/10/2010.

domingo, 15 de agosto de 2010

Saudade de JK?

Faltavam cerca de seis meses para a eleição, em abril de 1955 o ex-governador mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira fazia seu primeiro comício na cidade de Jataí- Goiás na carroceria de um caminhão. Juscelino então abrindo seu discurso às perguntas do povo pediu que o inquirissem sobre o que quisessem, eis que foi interpelado então pelo Sr. Antonio Soares Neto (Toniquinho) que perguntou a ele se iria cumprir a Constituição Federal. O então candidato Kubtischek disse a ele que se eleito teria que jurar a obediência às leis. Foi então que Toniquinho pediu a ele que em cumprimento da Constituição construísse e transferisse a nova Capital Federal para o centro do Brasil, no quadrilátero que então aparecia nos mapas do Brasil como “Nova Capital Federal”, pois lá estava escrito há muito tempo e que nenhum presidente tinha dado a mínima para a sua execução. Juscelino concordou e fez a promessa.

Estava dada a largada para o que era visto pelo mundo na época como, “Brasil constrói capital no meio do nada”. Um país subdesenvolvido, sem o domínio da mais avançada tecnologia existente na época tinha a ousadia de construir uma moderníssima capital que nas maquetes tinha mais a aparência de um monumento com ruas e avenidas. Juscelino não foi um presidente como outro qualquer, porque todos desejam ser ele. Kubitschek teve em seu governo todos os defeitos dos governos da época, mas teve uma virtude única que o faz ser lembrado sempre, montou um “plano de metas de governo” e o seguiu à risca.

Talvez seja isso que falta aos nossos candidatos, ter a coragem de montar um plano de metas, e se eleito persegui-lo com unhas e dentes como fez Juscelino. Será que um plano hoje, seria tão difícil de ser cumprido como o foi para Kubitschek de Oliveira? Eu não acredito. O país hoje tem uma moeda estável, é uma democracia que está caminhando, tem indicadores econômicos saudáveis. Já o país em 1955 vinha de uma ditadura passando aos trancos e barrancos para uma Democracia claudicante, tinha indicadores econômicos assustadores, e que conseguiu se sustentar somente até 1964. Diziam os adversários que para não admirar Kubitschek e ser realmente seu opositor era preciso mantê-lo a quilômetros de distância. O homem que comandou a construção de Brasília tinha um carisma inigualável, talvez seja esse o carisma que os candidatos de hoje procuram.

Juscelino se fez ao longo da experiência de exímio articulador político, como prefeito de Belo Horizonte, governador de Minas Gerais, Presidente da República e Senador, quando foi calado para sempre pelo regime militar. Não foi criado artificialmente por candidato ou partido político, era um candidato que tinha carisma e experiência para fazer o que propôs. Meta é o que não está faltando no Brasil de hoje, que tal uma revolução no transporte ferroviário eletrificado de carga e na modernização de nossos portos e aeroportos? Será que não é possível criar uma meta estratégica descentralizada através dos estados para que as nossas rodovias não fiquem tão esburacadas em tão pouco tempo? E a meta nacional para a eliminação do gargalo logístico em que nos metemos ao priorizar transporte de cargas por rodovias?

Outra sugestão seria um plano nacional para priorizar o transporte de massa de alta qualidade, metrôs, metrôs de superfície e os chamados sistemas metro bus, do qual somos pioneiros e os maiores especialistas no mundo. Metas não faltam, o que falta é coragem e determinação para executá-las.

Prof. José Roberto Camacho
Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Engenharia Elétrica
e.mail: jrcamacho@ufu.br

Publicado na coluna "Opinião" do Correio de Uberlândia em 19/08/2010.

domingo, 8 de agosto de 2010

Caminhos da Senhora da Abadia.

Uma das localidades mais famosas pelas romarias no Estado de Minas Gerais é a de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, antigo centro do garimpo de diamantes. O Santuário da Virgem do Bouro atrai todos os anos no dia 15 de agosto um grande número de devotos e a procissão famosa pelo aspecto pictórico das promessas. A festa de Nossa Senhora da Abadia completa este ano o seu 140o (centésimo quadragésimo) aniversário, talvez seja hora de pensar que esta peregrinação ao templo em Romaria mereça uma maior atenção das Secretarias de Turismo das cidades da região. Esta festa já atingiu sua maioridade, pois milhares de pessoas para lá se dirigem no mês de Agosto, mais precisamente, a primeira e segunda semana do mês, muitas famílias se preparam para cumprir uma peregrinação religiosa que já se tornou uma atividade obrigatória em nossa região. A caminhada a pé até a cidade de Romaria para aos pés de Nossa Senhora da Abadia agradecer as graças alcançadas ao longo do ano. Partem peregrinos a pé das cidades de Uberaba (127 kms), Uberlândia (89 kms), Araguari(92 kms), Patos de Minas(145 kms) para caminhadas que duram até dois dias e duas noites.

Caminham os peregrinos dia e noite pelas margens das rodovias, não é muito difícil ver alguns deles parando para descansar e dormindo no acostamento das estradas. Ficam estas pessoas sujeitas a todo tipo de risco uma vez que pelas rodovias federais trafegam veículos pesados carregando todo tipo de carga, algumas de alta periculosidade. O perigo, portanto ronda esses fiéis de Nossa Senhora, e a tragédia com vítimas é uma possibilidade constante que assombra estes caminhantes. Uma vez que a peregrinação à Romaria é uma atividade popular, o poder público das cidades da região deve começar a pensar em viabilizar trilhas de peregrinação pelas estradas rurais e longe das rodovias para que os caminhantes se sintam mais protegidos.

Não é chegada a hora das Secretarias de Turismo das cidades da região se reunirem e traçarem trilhas sinalizadas pelas estradas rurais? Estas trilhas teriam pontos de parada para descanso de tantos em tantos quilômetros e quiosques com água e uma palavra de conforto para os peregrinos que buscam fazer essa penitência. Fazendo isso nossas cidades estarão criando infraestrutura para o turismo religioso na região, como são os Caminhos de Santiago e de Fátima na Espanha e Portugal e o Caminho de Lourdes na França. Para atingir esses centros de peregrinação partem caminhos sinalizados de vários pontos da Europa, que nunca coincidem com estradas movimentadas, onde os peregrinos sempre estão longe do grande movimento de veículos.

Talvez com esta mensagem, o poder público e os religiosos procurem sentar para conversar e transformar a Catedral de Nossa Senhora da Abadia em Romaria o epicentro de uma série de caminhos devidamente sinalizados e com infraestrutura partindo das mais diversas cidades no que poderíamos chamar de “Os Caminhos de Nossa Senhora da Abadia”, cortando a beleza de nosso serrado, descortinando as veredas do interior do Brasil, além da possibilidade de se admirar durante a meditação de uma longa caminhada um lindo nascer ou por do sol no serrado Brasileiro. Transformando esta festa religiosa em mais uma oportunidade para uma região tão carente no aspecto turístico.

Prof. José Roberto Camacho
Universidade Federal de Uberlândia
Engenharia Elétrica

Publicado na coluna Opinião
Correio de Uberlândia
12 de Agosto de 2010