domingo, 20 de outubro de 2013

O Grande Poeta


No último dia 19/10/2013 comemoramos o centésimo aniversário do grande poeta Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes, um grande nome para uma pessoa de talento proporcional e que tratava a tudo e a todos no diminutivo de forma carinhosa.  Vinicius de Moraes, este homem carinhoso e apaixonado pelas mulheres foi um dos maiores poetas e letristas de música que o Brasil já conheceu. Quem não conhece as músicas “Garota de Ipanema”, “Eu sei que vou te amar” ou “Chega de saudade”? Foi tão apaixonado pelas mulheres que se casou nove vezes.

Existe muita coisa escrita sobre ele, mas é sempre lembrado como “o poetinha”, pelo diminutivo que ele usava para os amigos em sinal de intimidade, este diminutivo não faz jus ao grande poeta que foi e ao legado que deixou.  Por este legado ele é sem dúvida alguma um dos grandes nomes da língua portuguesa contemporânea. Ele nasceu no Bairro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro a três quadras da Lagoa Rodrigo de Freitas. Vinicius era Botafoguense, e esta paixão deveu-se também ao fato de ter se mudado ainda criança para o Bairro de Botafogo, onde morou em vários endereços.

Teve parceiros como Toquinho, Carlos Lyra, Baden Powell de Aquino, João Gilberto. Edú Lobo e Chico Buarque. A todos tratava com a maior deferência e com a mesma simplicidade que dedicava a todos os seus conhecidos. Desde os parceiros famosos até os inúmeros amigos e vizinhos de quarteirão que possuía em torno de sua residência na Gávea, o último lugar em que morou no Rio de Janeiro.

Vinicius foi um homem inteligente e extraordinário, pois conviveu com a descontração das amizades no Rio de Janeiro, até a amizade descontraída com presidentes como Juscelino Kubitscheck que a música lhe proporcionou. Existe registro dele sendo requisitado pelo presidente, no final da década de 50, a ir com seus amigos animar saraus no Catetinho em finais de semana, na época da construção de Brasília.

Foi um crítico do regime militar, que o exonerou da diplomacia após severas críticas ao regime político, emitidas desde um encontro cultural em Portugal. Onde recitou em protesto ao golpe militar o poema “Pátria minha”. Teve seus poemas lidos em reuniões sindicais onde o então líder sindicalista Luís Inácio da Silva, o Lula, leu seu poema “O Operário em Construção” em uma assembleia no grande ABC. Foi um homem à frente do seu tempo, pois participou ativamente da vida do país publicando inúmeros livros e criando a letra de inúmeras canções inesquecíveis que compõem o cenário musical brasileiro.

Como se pode observar, a alcunha de “Poetinha” não se encaixa bem neste homem que como intelectual foi um dos poetas maiores da língua portuguesa contemporânea, que publicou livros, fez letras de dezenas de músicas que fizeram parte de trilhas sonoras para a televisão, teatro e cinema. Suas músicas ficaram em cartaz em casas de show no Rio de Janeiro e São Paulo por meses a fio, e passearam pelo repertório de uma dezena de cantores e cantoras famosas. Sem mencionar que estes shows foram apresentados em casas de espetáculo no Brasil e no exterior.


Este é o poeta que contribuiu para que a música brasileira fosse conhecida e reconhecida ao redor do mundo. Fez letras de músicas que dão feições á cultura brasileira, desde a música, passando pelo teatro e até o cinema no Brasil da sua época. Faço este texto em homenagem ao homem que soube retratar em suas poesias a verdadeira alma brasileira. Nos cem anos de seu nascimento, temos certeza de que será eterno.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 28/10/2013

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Meu colega o Professor DB.


Não vou citar nomes neste texto, pois esta é mais uma história como tantas outras de dificuldades de estudantes que vieram buscar o futuro em nossa cidade. Tenho certeza que quem o conheceu ao ler esta homenagem saberá de quem se trata. Ele veio para Uberlândia estudar como muitos jovens esperançosos e cheios de vinda, em busca de um futuro melhor, nos meados da década de 70 do século passado. No final deste ano lá se vão 40 anos. Ele veio de Santos, São Paulo, com muita dificuldade, pouco dinheiro, onde o pai, que trabalhava na administração do serviço de estiva no porto, e a mãe muito rigorosa o educaram para uma vida honesta e cheia de sacrifícios. Fez o vestibular e passou para Engenharia Elétrica.

Foi trabalhar em uma empresa de engenharia como desenhista, onde em meio a todo a ferramental de engenharia ainda poderia sobrar um tempinho para estudar. Afinal de contas ele estava no meio que havia escolhido como profissão. Trabalhava muito, longas horas em cima da prancheta, os estudos na FFEU - Faculdade Federal de Engenharia de Uberlândia, o futebol de salão e os novos amigos longe da terra natal fizeram com que ele aprendesse a amar a terra que havia escolhido para vir estudar. Devido aos sacrifícios foi um homem de vida espartana, muito simples e humilde entregou o melhor de si sempre em tudo o que fez.

Este homem foi meu colega em algumas disciplinas do curso de graduação em Engenharia, e entre algumas passagens de nossa riqueza de saudáveis estudantes pobres me lembro de uma passagem, com este colega, que ficou bastante marcada em minha mente. Nos idos de 1975 estávamos na cantina no intervalo de aulas, e ambos tínhamos um dilema, o dinheiro que tínhamos daria para voltar de ônibus para casa ou comprar um quitute na cantina e voltar a pé. Combinamos então que cobriríamos a pé no fim do dia os 3 km que separavam a Faculdade Federal de Engenharia de Uberlândia, hoje Campus Santa Mônica da UFU, do centro da cidade. E assim voltamos felizes para casa caminhando, conversando e contando um com o apoio do outro.

Este homem de hábitos simples, após cinco anos de estudos e a formatura, passou a trabalhar como Professor Auxiliar na faculdade que o abrigara nos últimos anos. Sempre muito dedicado foi recrutado pelos seus superiores para fazer o mestrado na EFEI – Itajubá, hoje UNIFEI e depois o doutorado pela UNICAMP. Formou uma bela família, com um casal de filhos, que passaram a ser junto com a esposa e o trabalho sua razão de viver.  Junto com a docência, trabalhou como engenheiro do setor de manutenção elétrica e junto com projetos de economia de energia para a UFU, desenvolveu também projetos filantrópicos em nossa cidade. Orientou estudantes de mestrado que o respeitavam pelo conhecimento, humildade e simplicidade.


Faço esta homenagem a este colega, do qual fomos privados do convívio material, e a poucos dias da merecida aposentadoria, combalido pelas doenças do corpo material, se recusou a aposentar por invalidez. Para ele seria uma desonra tal sorte, após tantos anos de dedicação. E em um dia de abril de 2012 após a defesa de um de seus estudantes de mestrado, para o qual ele foi trazido ao trabalho pela esposa com muita dificuldade para registrar nesta ata de defesa de mestrado, o último ato oficial de sua vida; ele voltou para casa e desde dia para o dia seguinte se foi para sempre acompanhado por anjos de luz, sem nenhuma honraria, descansou sem dar tempo sequer de se aposentar, sem nos deixar agradecer pelo convívio. Com a maior sinceridade faço esta tardia, porém singela homenagem a você meu colega Professor DB.

Texto publicado em 10/10/2013
Jornal Correio de Uberlândia
Coluna Ponto de Vista