quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Mobilidade urbana.


Em nossa sociedade consumista e individualista a vida em comunidade sempre ficou para o segundo plano. A regra é: - Se estou me dando bem o vizinho que se lixe. Para se ter certeza que e a nossa vida comunitária é de péssima qualidade é só observar o quanto a sociedade se organiza para pleitear seus direitos junto aos nossos dirigentes municipais, estaduais e federais. O nível de organização de nossa sociedade é pequeno, não temos sequer uma política de segurança de vizinhança, ou seja, voltada para o entorno de nossas residências.

O que dizer então da mobilidade urbana. A dificuldade em nossa cidade de se locomover para o centro da cidade de um bairro populoso e distante como por exemplo o Luizote de Freitas é enorme, e se resume à poucas alternativas, algumas delas caríssimas, como o taxi e o veiculo próprio, outras não tão caras como o transporte coletivo, e outras de muito baixo custo que são a pé ou de bicicleta. Que em nossa cidade, devido à distância e a inexistência de ciclovias são opções praticamente descartadas pelo cidadão comum.

Há um movimento em nossa cidade pelo transporte coletivo gratuito. Que seria pago pela contribuição de todos os cidadãos, tanto os que usam como os que não usam o transporte coletivo. Existem várias formas de se tornar o transporte coletivo mais barato. Uma fórmula interessante seria criar um fundo pago pelas empresas situadas em nossa cidade, que seriam dedutíveis dos impostos pagos ao município em benefício da criação de ciclovias e de um transporte coletivo de melhor qualidade para todos os cidadãos.

É preciso também modernizar o transporte através do estabelecimento pela Prefeitura Municipal de metas de qualidade e de modernização para as empresas que lucram com o transporte de pessoas em nosso município. Não é possível que a população continue a viajar nas próximas décadas dentro da cidade em ruidosos veículos movidos a motores de combustão interna e de baixa acessibilidade. Este tipo de transporte era moderno no início da década de 70 quando começou a ser implantado em Curitiba.

Vamos priorizar BRTs em Uberlândia quase 45 anos depois? Já não é hora de pensarmos em algo mais moderno como as silenciosas linhas de um metrô leve de superfície realmente eficientes e que atendam as necessidades da população? Chegou em minhas mãos um mapa de Uberlândia com o esboço de duas linhas para nosso metrô leve de superfície. Uma das restrições de se fazer a tal projeto é de não mexer com os lucrativos corredores de BRTs que já estavam com seu projeto prometido para as permissionárias de serviço de transporte coletivo da cidade.

Resultado, o que sobrou para o trajeto de nosso VLT (veiculo leve sobre trilhos) foram duas linhas que não tinham interesse das grandes empresas de ônibus da cidade. O trajeto inicial do VLT ao invés de ser uma grande cruz percorrendo as grandes avenidas de Uberlândia de Norte a Sul e de Leste a Oeste, transformou-se em um "Frankenstein" com duas linhas que começam e terminam praticamente no mesmo lugar e que atende os interesses das empresas de transporte coletivo e não os da população laboriosa de nossa cidade.


Pasmem os senhores leitores que as Avenidas João Naves de Ávila e Monsenhor Eduardo, antigo leito da Estrada de Ferro Mogiana e com inclinação adequada para trens, continuará sendo servida pelo menos nos próximos cinquenta anos por veículos movidos a ruidosos motores de combustão interna e com baixo nível de acessibilidade. Este é planejamento futuro que queremos para Uberlândia?


Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 27/02/2015
Republicado em 03/10/2015

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O cobertor está curto?

Em nosso país é de conhecimento de todos a precarização de nosso ensino fundamental e médio públicos em detrimento do ensino privado nesse nível. Com essa precarização os professores de ensino fundamental e médio perderam muito com salários aviltados e padrão de vida aquém do necessário para treinar uma sociedade civilizada, com isso nossos jovens não se interessam mais pela carreira e não possuem a mínima vontade de terem uma profissão que não lhes dá a mínima dignidade para viverem em uma sociedade moderna. 

Os nossos políticos acenam com a necessidade de melhora no ensino nos níveis fundamental e médio da escola pública. E que esta melhora passa sem dúvida pelo estimulo financeiro de seus profissionais. Mas por outro lado precarizam a carreira docente nas escolas técnicas e nas universidades públicas. Isso é um contrassenso pois se a carreira nas escolas técnicas e nas universidades é atraente seria bom mantê-las como estão e fazer com que as escolas de ensino fundamental e médio públicas tivessem docentes com carreira tão atraente quanto os níveis superiores.

O que nos parece é que o cobertor está curto, pioram de uns para melhorar o de outros níveis, nivelam por baixo o que deveria ser nivelado por cima em sua totalidade. Alertas devem ser emitidos para que não se diga que os nossos jovens se desinteressaram pela carreira docente. A situação de nosso ensino é crítica e já reflete na capacidade de fornecer profissionais de qualidade para a indústria e serviços. Se nenhum programa sério for criado para estimular nossos jovens a se interessarem pelo magistério temos como resultado uma deficiência muito grande de gente capacitada para o trabalho em todos os níveis.

Sem mencionar a dificuldade de se encontrar jovens mestres de qualidade interessados em ministrar disciplinas importantes como Matemática, Física, Química, Biologia e Ciências. Isto, não pela inexistência deste recurso humano, mas pelo desinteresse dos mesmos em viver uma carreira desprestigiada e sem nenhum respeito da sociedade, onde o dia a dia é permeado por dificuldade de todo tipo desde a inexistência de um ambiente de trabalho com o mínimo de conforto até a distância de nossas escolas públicas da realidade tecnológica do Século XXI.

Bibliotecas e laboratórios completamente desaparelhados de recursos técnicos de ensino, onde a criatividade do professor tenta superar as barreiras quase intransponíveis da inexistência de recursos materiais. Além de um quadro desesperador desses, soma-se o descaso da sociedade para com o bem público, essa falta de apreço é retratada pela quantidade de vezes que nossas escolas públicas são assaltadas, com professores vendo seus parcos recursos de ensino serem levados por amigos do alheio. Sem contar as notícias, todos os anos, do número de escolas públicas que possuem instalações tão envelhecidas que não se recomenda sua ocupação no início de um novo ano letivo.

O desafio é fazer com que, num cenário desses, professores estejam motivados e felizes com a realidade que vivem todos os dias. Como conseguir isso? Suas dificuldades vão desde o transporte de casa para a escola até os recursos materiais que possuem à sua disposição para realizar o seu trabalho de formar cidadãos. Um professor tem que ter uma renda mínima para se manter atualizado, poder sonhar e se informar à frente do seu tempo. Um professor precisa fazer sonhar, mas como fazer isso se nem ele mesmo sonha mais com dias melhores?

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 24/02/2015