domingo, 24 de julho de 2011

A professora disse tudo.

O cenário é a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte e trata da audiência pública sobre o cenário atual da educação naquele estado, a professora Amanda Gurgel é chamada à tribuna para contribuir na discussão para a solução dos problemas da educação naquele estado. Professora corajosa essa, que atira na cara do estado que a responsabilidade pela pobreza cultural de nossa escola pública, não é só dos professores, mas de todos nós e dos dirigentes do estado que ficam só na retórica de melhorar a qualidade da educação.

A professora inicia a sua fala mencionando os números com três dígitos que representam o seu salário, e o que ele significa para a dignidade dela e de sua família. O professorado já não aguenta mais os pedidos de paciência dos dirigentes educacionais, que adiam constantemente a solução de problemas que se multiplicam por anos a fio e que levam a escola de primeiro e segundo grau para o caos.

É público e notório que um professor da rede pública só consegue um salário digno se multiplicar as jornadas de trabalho, muitos deles trabalham de manhã, à tarde e á noite cinco dias da semana, relegando a um segundo plano o tempo livre que teria para preparar aulas, se reciclar e até dedicar à sua família. Com os finais de semana sendo dedicados em casa à estas atividades. Transformar o professor de primeiro e segundo graus em sobrevivente é um grave erro que estamos praticando com a educação de qualidade. E o pior é que esta prática está sendo passada aos níveis superiores.

Precisamos sair da retórica à prática, é preciso oferecer educação pública de qualidade a todos os brasileiros  para que efetivamente o Brasil seja um país de oportunidades. Mas para tanto é necessário que se resgate a dignidade do professor, pois com esse exemplo qual é o jovem que vai querer abraçar a carreira de professor? Basta observar o número de estudantes que buscam cursos superiores de licenciatura em nosso país, com tal desprestígio estes cursos estão literalmente fechando as suas portas pela falta de estudantes dispostos a abraçar a nobre carreira.

Vamos então fazer uma abstração de como seria o mundo sem professor. Se não existir o professor, não vai existir a escola, se não existir a escola voltaremos todos à época dos aborígenes que passam em casa de pai para filho tudo o que aprenderam na vida. Talvez se voltássemos um pouco às raízes, acabaríamos descobrindo que parte do problema também é este, uma grande porcentagem dos pais não acompanha o estudo dos filhos na escola, e nem se preocupam com o desempenho escolar deles. Parte da educação dos filhos cabe aos pais, pois devem participar e acompanhar o que se seus filhos estão aprendendo na escola.

A culpa deste estado de coisas é de todos nós que coniventes aceitamos passivamente a deterioração do ensino, junto com a deterioração da segurança, dos hospitais e de tudo que está à nossa volta. Cabe a nós rejeitarmos de forma veemente, e deixar claro para quem recebe os nossos impostos, que queremos que eles sejam utilizados para o que é do nosso interesse. Pois uma boa escola forma cidadãos mais conscientes e mais preparados, que como a Profa. Amanda Gurgel não aceitarão serem tratados com descaso pelos espertalhões encastelados nos corredores do poder.

É claro que a Profa. Amanda Grugel nunca será convidada para ser a Secretária de Educação de seu estado, mas de uma coisa ela pode estar certa, foi lúcida, direta e conta com a admiração de toda uma nação, pois mostrou aos poderes de plantão que os professores sabem o que é necessário para a verdadeira transformação da educação. É só escutá-los e colocar em prática.