Num cenário baseado
em sua totalidade por um modelo hidrotérmico de energia, o governo do Brasil
insiste no autismo de achar que temos um sistema predominantemente hídrico e
que água não custa dinheiro. O sistema é hidrotérmico porque as usinas
hidráulicas sozinhas não conseguem suprir o atual pico de demanda de energia de
80 GW. Soma-se a isso o fato que as usinas térmicas são usadas de forma
intermitente para cobrir as possíveis ausências das máquinas hidráulicas. Uma
forma pouco aconselhável de utilizar usinas térmicas, e que só contribui para a
redução de sua vida útil.
A boa técnica
recomenda que usinas térmicas sejam usadas como base de geração, ou seja, elas
foram feitas para gerar energia ininterruptamente e não para serem usadas de
forma intermitente. O problema é que estas são mais caras, tanto ligadas quanto
desligadas do sistema, pois sua manutenção é onerosa e precisam estar sempre
prontas para entrar em operação. Já que precisam estar sempre prontas para
entrar em operação, que fiquem permanentemente ligadas ao sistema fornecendo a energia
da base.
O problema é que
decisões políticas reduziram a fórceps a tarifa de energia elétrica, o
faturamento das empresas de energia elétrica caiu drasticamente, e as tarifas
vão fazer ir para o vermelho a diferença entre receita e despesa. Sem lucro não
há como investir em um país que praticamente precisará dobrar sua capacidade de
produzir energia em dez anos, as demandas estimadas para o país, mantendo o mesmo
ritmo de crescimento, em 2010, 2015 e 2020 são respectivamente de 88 GW, 118 GW
e 154 GW. Seremos capazes de suprir esta energia com contenção do lucro nas
empresas de energia via contenção artificial das tarifas? Qual será o custo das
medidas políticas atuais sobre o custo futuro da tarifa de energia elétrica?
Para quem sobrará o
abacaxi de trazer realidade às tarifas de energia elétrica? Para tarifas mais
baratas é preciso utilizar energia mais barata. Todos nós já sabemos de passado
recente o que acontece quando se utiliza a energia hidráulica mais barata à
exaustão e São Pedro teima em não mandar chuva para recuperar reservatórios. É
uma irresponsabilidade a forma como se utiliza energia hidrotérmica em nosso
país. Estas decisões pouco responsáveis adotadas hoje causarão impacto futuro
quando a conta das decisões políticas virá a ser cobrada.
A justificativa dos
políticos é que a energia térmica a gás e óleo pesado é poluente e cara, isso é
uma meia verdade, pois modernos sistemas de filtros tornam o sistema bastante
limpo, o preço do combustível é caro, mas quanto nós iremos pagar pela energia
no futuro com os projetos hidráulicos possíveis sendo reduzidos a olhos vistos
por motivos ambientais? Não existindo mais reservas hidráulicas firmes disponíveis
teremos que partir de qualquer forma para as usinas térmicas, a última reserva
de energia firme disponível. Uma vez que a energia alternativa eólica e solar é
intermitente e funciona com base forte na estatística da presença ou não do
vento e do sol.
A alternativa talvez seja
as novas fontes de energia com forte incentivo na produção da energia a partir
de biomassa e biocombustíveis, um setor em que o país é fortíssimo e merece
atenção especial em vista da grande quantidade de biomassa disponível a partir
da indústria do açúcar e álcool e do milho. Espera-se que sejam adotadas
medidas de estimulo real às energias renováveis e autoprodução de energia, ou
caminharemos para o colapso.
Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 21/08/2013
Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 21/08/2013