quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Energia: O alto custo da redução das tarifas.


Num cenário baseado em sua totalidade por um modelo hidrotérmico de energia, o governo do Brasil insiste no autismo de achar que temos um sistema predominantemente hídrico e que água não custa dinheiro. O sistema é hidrotérmico porque as usinas hidráulicas sozinhas não conseguem suprir o atual pico de demanda de energia de 80 GW. Soma-se a isso o fato que as usinas térmicas são usadas de forma intermitente para cobrir as possíveis ausências das máquinas hidráulicas. Uma forma pouco aconselhável de utilizar usinas térmicas, e que só contribui para a redução de sua vida útil.

A boa técnica recomenda que usinas térmicas sejam usadas como base de geração, ou seja, elas foram feitas para gerar energia ininterruptamente e não para serem usadas de forma intermitente. O problema é que estas são mais caras, tanto ligadas quanto desligadas do sistema, pois sua manutenção é onerosa e precisam estar sempre prontas para entrar em operação. Já que precisam estar sempre prontas para entrar em operação, que fiquem permanentemente ligadas ao sistema fornecendo a energia da base.

O problema é que decisões políticas reduziram a fórceps a tarifa de energia elétrica, o faturamento das empresas de energia elétrica caiu drasticamente, e as tarifas vão fazer ir para o vermelho a diferença entre receita e despesa. Sem lucro não há como investir em um país que praticamente precisará dobrar sua capacidade de produzir energia em dez anos, as demandas estimadas para o país, mantendo o mesmo ritmo de crescimento, em 2010, 2015 e 2020 são respectivamente de 88 GW, 118 GW e 154 GW. Seremos capazes de suprir esta energia com contenção do lucro nas empresas de energia via contenção artificial das tarifas? Qual será o custo das medidas políticas atuais sobre o custo futuro da tarifa de energia elétrica?

Para quem sobrará o abacaxi de trazer realidade às tarifas de energia elétrica? Para tarifas mais baratas é preciso utilizar energia mais barata. Todos nós já sabemos de passado recente o que acontece quando se utiliza a energia hidráulica mais barata à exaustão e São Pedro teima em não mandar chuva para recuperar reservatórios. É uma irresponsabilidade a forma como se utiliza energia hidrotérmica em nosso país. Estas decisões pouco responsáveis adotadas hoje causarão impacto futuro quando a conta das decisões políticas virá a ser cobrada.

A justificativa dos políticos é que a energia térmica a gás e óleo pesado é poluente e cara, isso é uma meia verdade, pois modernos sistemas de filtros tornam o sistema bastante limpo, o preço do combustível é caro, mas quanto nós iremos pagar pela energia no futuro com os projetos hidráulicos possíveis sendo reduzidos a olhos vistos por motivos ambientais? Não existindo mais reservas hidráulicas firmes disponíveis teremos que partir de qualquer forma para as usinas térmicas, a última reserva de energia firme disponível. Uma vez que a energia alternativa eólica e solar é intermitente e funciona com base forte na estatística da presença ou não do vento e do sol.

A alternativa talvez seja as novas fontes de energia com forte incentivo na produção da energia a partir de biomassa e biocombustíveis, um setor em que o país é fortíssimo e merece atenção especial em vista da grande quantidade de biomassa disponível a partir da indústria do açúcar e álcool e do milho. Espera-se que sejam adotadas medidas de estimulo real às energias renováveis e autoprodução de energia, ou caminharemos para o colapso.

Publicado na Coluna Ponto de Vista

Jornal Correio de Uberlândia
Data: 21/08/2013

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Precisa-se do homem institucional.


Nestes nossos dias vivemos um exacerbado culto ao personalismo, uma época em que o culto pessoal é muito mais importante que a tradição das instituições. Em realidade vos digo que é exatamente o contrário, as instituições são muito mais importantes que os homens em sua função de servir. Os homens passam, as instituições ficam. Estamos desesperadamente à procura de homens que sejam institucionais e que tenham consciência de que estão aqui a serviço do seu semelhante.

Precisamos de homens que sejam institucionais que tenham certeza que o seu sucesso seja a serviço da comunidade em que vive; homens que não cultuem o personalismo e não visem somente o seu bem estar e o de seus familiares, mas o bem estar do outro desconhecido que vive na mesma comunidade. Que o problema da comunidade e da instituição que dirige seja realmente um problema a ser resolvido, e não varrido para debaixo do tapete se não for conveniente para si próprio e para os seus.

Todos nós indistintamente dependemos de instituições, quer seja ela uma instituição federal, estadual ou municipal. Dependemos da escola onde estudamos, dos serviços públicos, dos órgãos classistas dos trabalhadores e dos organismos governamentais que devem obedecer a um cipoal de regras e leis que nem sempre são cumpridas. Nestas instituições o culto à personalidade é muitas vezes tão exacerbado que o ocupante da direção se julga dono do que é público e pratica atos à revelia do que é melhor para todos.

Em geral os personalistas tem a presunção de achar que o que fazem é o melhor para toda a comunidade, cultuando um personalismo que nos remete aos piores regimes ditatoriais. Estamos em busca de homens institucionais, que tenham consciência que dirigir um organismo é escutar e fazer, sem muita conversa e mais delongas, pois o tempo urge. Converso sempre com um velho amigo que já ocupou cargos de direção em órgãos federais. Um dia ele me disse: ­_ Muitos homens imaginam que o sucesso dentro de uma comunidade depende de impedir que os outros também tenham sucesso.

Mas a verdade maior é construir algo em que o sucesso possa ser dividido por toda a comunidade, além do compartilhamento de toda a responsabilidade. Pois o sucesso do grupo também será o sucesso de seu dirigente. O bem estar do dirigente será o bem estar da comunidade, não é correto pensar que só se dá valor a algo se somente uma pessoa ou família está bem, é preciso que ações comunitárias sejam direcionadas para que a maioria usufrua de seus benefícios.

É certo que as pessoas são muito importantes quando fazem parte de comunidades e que as instituições estão aqui para servi-las. Mas uma pessoa não pode dirigir uma instituição somente pensando em si e nos seus. Os recursos hoje são muito limitados e não canalização ou a sonegação de recursos para um determinado fim fazem com esta atividade fim se deteriore e acabe cobrando um preço alto daquele dirigente. Precisamos, portanto de gente que pense que as instituições estão acima do enriquecimento pessoal e familiar a custa de tantos membros da comunidade.

Que saibamos buscar na escolha de nossos representantes de todos os níveis, aquele homem ou aquela mulher que se preocupe mais com o bem comum do que com o bem próprio ou de seus familiares. Outro dia um amigo me disse que só escolheria representante para qualquer cargo se não vislumbrasse neste o culto ao personalismo que tantos malefícios têm causado às instituições que congregam nossa coletividade. Que venham então os homens e as mulheres institucionais.

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia
Coluna Ponto de Vista
Data: 04/08/2013