Em
31 de março de 1964 a nação brasileira pacífica e ordeira conheceu o perigo da
influência armada na política nacional. O perigo de uma intervenção estrangeira
nunca fora tão próxima dentro de nossas fronteiras. O então presidente João Belchior
Marques Goulart informado do perigo que a nação corria em ato de extrema
coragem e generosidade para com o povo brasileiro deixou que lhe tomassem o
cargo que pelo direito do voto havia conquistado, o de Presidente da República.
João
Goulart era um riquíssimo latifundiário gaúcho que queria um país mais humano
para os seus cidadãos. Tanto queria isso que durante o seu governo entre outras
medidas criou a Secretaria Especial para a Reforma Agrária, estimulou que todos
os trabalhadores participassem de sua administração e deu a eles voz e poder
junto ao governo federal. Além disso restringiu a remessa de lucros das
empresas estrangeiras para fora do país. Medidas desse tipo fizeram com que
fosse acusado de comunista e fosse covardemente defenestrado de seu posto de
trabalho. Um posto conquistado licitamente através do voto.
E
veio a revolução de 1964 que jogou no limbo a cultura e o saber nacional. Que
perseguiu eminente políticos entre outros o próprio Jango, JK os professores
Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e Almir de Castro, além dos renomados físicos
Mário Schenberg, José Leite Lopes, Jayme Tiomno e Elisa Frota-Pessoa
aposentados e sumariamente demitidos de suas cátedras. Muitos foram os casos
desse tipo que pipocaram pelo país e nomear todos eles seria praticamente impossível.
O
teatro, o cinema e a música foram censurados, não havia liberdade de expressão
e o país regrediu enormemente em termos políticos, transformando toda uma
geração de brasileiros que passaram a enxergar a política como algo proibido.
Pois nesta época não podiam ser questionados os atos do governo ou não se podia
discutir política ou simplesmente expressar repulsa pelo que de errado
acontecia no país. Esse legado letárgico em relação a política carregamos todos
os brasileiros de nossa geração.
Sofremos
enorme atraso cultural e técnico com grandes pensadores sendo simplesmente
exilados em outros países, nesta época saíram do país desde ex-presidentes da
república, até simples militares de baixa patente que não se conformavam com os
rumos do país. Passando por artistas, renomados professores e cientistas, enfim
brasileiros democratas de todo naipe e profissão. Um país acolhedor em que de
repente vê seus filhos lutarem uns contra os outros por questões ideológicas e
políticas. Muitos foram os perseguidos e a elite brasileira passou a se
envergonhar da revolução que tinha patrocinado ou no mínimo pecado por omissão.
Está tudo registrado em inúmeras publicações escritas por jornalistas sobre
esse período.
A
pergunta hoje é: - O que temos a comemorar do período ditatorial brasileiro?
Nada? - Porque temos que relembrá-lo sempre? Porque é uma situação a que não
queremos mais ver nosso povo submetido. Um povo ordeiro, laborioso e cordial,
que procura esquecer suas mazelas com muita música, amizades e amor à vida. É
preciso dar conhecimento às novas gerações do que foi e o que aconteceu durante
nossos períodos ditatoriais para que não sejamos forçados, por divergências
políticas, a ver brasileiro contra brasileiro em guerra por questões ideológicas.
Foi um período de nosso passado histórico que deve ser contado de forma
verdadeira para as nossas novas gerações para que períodos deste tipo não se
repitam em nossa história.
Publicado na coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 06/04/2014