sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Renuntiatio a papa.


O Papa Bento XVI renunciou. O mundo está realmente mudado, pois esta é uma notícia que nenhum católico vivo jamais viu na mídia. A última renúncia foi a do Papa Gregório XII em 1415, portanto quase 600 anos se passaram. O mundo católico não sabia mais o que era isso. Baseado nos depoimentos de várias figuras proeminentes é possível traçar um perfil do homem que teve coragem de renunciar, estas opiniões mostram os pontos fracos e fortes do Cardeal Ratzinger e de seu papado.

Bento XVI foi o ducentésimo sexagésimo quinto papa, o Cardeal Joseph Alois Ratzinger, alemão nascido na pequena vila de Marktl Am Inn na Baviera, ao ser eleito em 2005 com a morte de João Paulo II, tinha sido o líder da controversa Congregação para a Doutrina da Fé. Hoje é acusado por membros da própria igreja católica de ser muito controverso e de ter dois pesos e duas medidas, era muito brando com os reacionários seguidores de Lefebvre, membro do movimento conservador católico que contesta algumas das mudanças do Concílio Vaticano II, enquanto que os partidários da Teoria da Libertação, doutrina católica de esquerda que defende a intervenção social dos católicos, eram tratados a golpes de bastão.

Um grupo irlandês de defesa de crianças abusadas afirma que ele teve oportunidade de enfrentar décadas de abuso na Igreja Católica, prometeu muito, mas nada fez. O pedido de sanções contra as ordens religiosas envolvidas nestes atos e os dirigentes religiosos que permitiram que ocorressem, outra vez nada aconteceu. Este grupo afirma que a Igreja Católica deve reconhecer o que se passou, e que deixaram o demo entrar na igreja onde morou por cinquenta anos.

Outros líderes elogiaram o Papa em seu trabalho para integrar todas as religiões. O que se conclui é que Joseph Ratzinger era um estudioso da religião que via em todas as outras religiões, à semelhança da sua, o bem comum voltado para o homem. O grão rabino de Israel afirmou que durante este papado, melhoraram as relações entre a Igreja e o rabinato. Diz ainda que ele merece todo o crédito pelos avanços no diálogo inter-religioso entre o Judaísmo, o Cristianismo e o Islã.

A renúncia de um papa é um fato que não acontece todos os dias, os membros da igreja católica foram pegos de surpresa pelo homem que já demonstrava alguns sinais de cansaço. Os católicos se acostumaram a ver o Sumo Pontífice como um rei que não renuncia e só deixa o posto com a morte, foi desta forma que os papas que estiveram no cargo por mais de quinhentos anos enfrentaram o posto, até morrer.

O Bispo de Roma, agora após a renúncia viverá no Vaticano e terá o titulo de Bispo Emérito de Roma. Mas que influencia passará ele a ter sobre o novo Papa? Será ele visto como uma eminência parda dentro dos muros da Santa Sé? Ele estará em uma posição hierárquica de quem já ocupou o cargo e coloca-se agora na figura de um conselheiro que passou por todas as experiências dentro da Igreja Católica, inclusive ao dirigi-la por quase oito anos.

O atual papa foi muito corajoso, e se a razão para sair é sua saúde debilitada, que um homem mais jovem e com mais saúde ocupe o posto de líder de todos os católicos. Mas muitos católicos acham que existem outras razões, se estas razões existem, é bom que os fiéis de todo o mundo comecem a cair na real de que os tempos de sumos pontífices como Pio XII, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II já passou e a modernidade chegou. A pergunta é: - Será que o papado se transformou em um cargo como outro qualquer?

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia
Coluna Ponto de Vista
Data: 14/02/3013




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Santa Maria....


É madrugada de sábado para domingo, enquanto todos descansam o fim de semana dos justos, mais uma tragédia anunciada entrava para a história dos grandes desastres de nosso país. Na boate Kiss em Santa Maria no Rio Grade do Sul, se reuniam em uma festa de jovens universitários, mais de 900 pessoas, num local em que foi declarado que só caberiam pouco mais de 400 pessoas.

Um dos membros da banda Gurizada Fandangueira, que animava a balada, resolveu adicionar um pouco de adrenalina àquele local escuro, apertado e isolado acusticamente com materiais altamente inflamáveis, que produzem letais gases tóxicos ao se queimarem. A brilhante ideia de um dos membros da banda fandangueira foi acender sinalizadores e fazer deles elemento de acrobacia e pirotecnia para animar a festa.

Fagulhas dos sinalizadores atingiram os elementos de decoração e isolação acústica, produzindo fogo que se espalhou rapidamente pelo local. Somem-se à tragédia, extintores que não funcionam e pessoas sendo impedidas de deixar o local por seguranças que formam uma barreira de brutamontes exigindo o pagamento das “comandas” de quem saía às pressas. Muitos impedidos de sair tentaram se esconder nos banheiros.

Estes foram os elementos do desastre que matou mais de duas centenas de jovens, e mandou outra centena em estado crítico, para o hospital, a grande maioria deles universitários. O Brasil ainda chora e todos nós choramos, porque poderiam ser os nossos filhos. Uma sequencia imperdoável de erros provocou esse desastre de monstruosas proporções. Como diria um especialista em aeronáutica, “um avião não cai devido a uma única falha”.

Todos nós falhamos por não exigir condições mínimas de segurança quando pagamos por um serviço. A certeza que circula por todo o Brasil é que esta não é a única casa de espetáculos em situação precária em nosso país. É preciso que as autoridades mudem a legislação, criem normas modernas, e as fiscalizem, para viabilizar a segurança em todos os ambientes em que se reúnam um grande número de pessoas.

É inconcebível que em pleno século XXI ainda se utilizem de métodos medievais de cobrança de dívidas em casas de espetáculos. Empresários da noite que se preocupam com segurança viabilizam o pagamento adiantado dentro das casas de espetáculo. Não se recomenda que pessoas fiquem trancadas dentro destes ambientes apertados, abafados e escuros por possuírem uma dívida que só pode ser paga “a posteriori”.

O desastre que aconteceu em Santa Maria, no R. G. do Sul, é de enormes proporções, pois equivale a um acidente maior do que a colisão de dois aviões “Boeing 737”, onde não sobreviveu praticamente ninguém. É preciso que haja fiscalização nestes ambientes quanto à segurança, quanto ao cumprimento de normas ambientais, e a facilidade da evacuação de pessoas em casos de acidentes. E se precisarem ser abafados estes ruídos que o sejam com materiais que não propaguem chamas e nem liberem gases tóxicos, para não se transformarem com a propagação de fogo em verdadeiras câmaras de gás.

O choro de todo o país, inclusive de nossa presidenta, é pela nossa omissão, diante do que está errado, ter negado um futuro talvez brilhante, a jovens que morreram empilhados em desespero, relembrando as câmaras de gás dos campos de concentração nazistas na segunda guerra mundial. Somos todos coniventes com a falta de segurança em que vivemos. Nenhuma família merece isso, é hora de dar um basta, e que Santa Maria tenha piedade de nós.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia em 31/01/2013