Este texto é escrito em homenagem a alguns brasileiros exemplares em algum ramo de atividade e que suas obras foram tão importantes que meras homenagens ou livros escritos são insuficientes para agradecer o patriotismo e as boas obras que construíram ao longo de uma vida. São, portanto heróis, e filmes poderiam ser feitos para servir de exemplo às novas gerações. São pessoas que primaram pela ética, seriedade, solidariedade e lisura com que encararam a vida e procuraram por todos os meios lícitos disponíveis deixar um mundo melhor do que aquele que encontraram.
O primeiro deles é o Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho, patrono da aeronáutica do Brasil, objeto do livro “Montenegro” do Jornalista Fernando Morais onde ele conta a biografia e “as aventuras do marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil”. Outro livro foi escrito por Ozires Silva e Déscio Fischetti, “A trajetória de um visionário. Vida e obra do criador do ITA”. Que contam a história heróica de um piloto da força aérea que se transformou no primeiro reitor do ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica e do CTA – Centro Tecnológico da Aeronáutica, hoje denominado DCTA – Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial e que transformou em realidade o sonho de uma indústria aeronáutica genuinamente nacional.
Outra heroína foi Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, esposa do escritor Guimarães Rosa, e que foi sua colega de trabalho no Consulado do Brasil em Hamburgo durante a segunda guerra mundial. Aracy de sua mesa dentro do Consulado do Brasil em Hamburgo conseguiu salvar centenas de vidas de Judeus que para fugir da perseguição nazista pediram asilo ao Brasil. Por seu trabalho no consulado e seu espírito humanitário ela foi agraciada pelo governo de Israel com o título de “Justa entre as Nações”. Sua história de vida além de estar presente em livros, merece ser conhecida por nossos jovens tão carentes de verdadeiros heróis.
Os nossos heróis foram em geral pessoas simples que devotaram a sua vida a um determinado objetivo, um exemplo também destacado é o do Eng. Bernardo Sayão Carvalho Araújo. Formado pela Escola Superior de Agronomia e Medicina Veterinária de Belo Horizonte em 1923, é um nome destacado na história de Brasília. Vivia no Rio de Janeiro, em 1935 ficou viúvo, aos 34 anos viu-se só e com duas filhas, em 1939 resolveu mudar com a família para Goiás para onde veio construir estradas. Trabalhou no famoso programa do governo brasileiro chamado “Marcha para o Oeste”. Em 1941 casou-se novamente e em 1954 foi eleito vice-governador de Goiás, em 1956 era um dos diretores da NOVACAP, empresa estatal que cuidava da construção da nova capital federal. Por ordem do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira foi encarregado em 1958 da construção da estrada Belém – Brasilia (Transbrasiliana) e aceita gerenciar pessoalmente as obras da rodovia. Mas um homem com tal desprendimento e coragem deveria ser parte indelével da história da nova capital federal, e para tanto um terrível acidente em 1959 durante a derrubada da mata para a abertura da estrada uma árvore cai sobre sua barraca e o deixa gravemente ferido. Sayão morre no mesmo dia dentro de um helicóptero em busca de socorro. Por ironia do destino ele acabou sendo o pioneiro do Campo da Esperança, o cemitério de Brasília. A rodovia Belém-Brasília em sua homenagem recebeu o nome oficial de Rodovia Bernardo Sayão.
Outro grande inventor nacional foi o Padre Roberto Landell de Moura, desconhecido inventor, que já fazia experiências com transmissores de rádio bem antes de Guglielmo Marconi, acender, com comando de rádio desde Genova na Itália as luzes do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, em 12 de Outubro de 1931, dia de sua inauguração. Seu experimento registrado com sucesso data de 03 de Junho 1900, e trata-se sua fantástica experiência de transmitir a voz humana através de ondas de rádio entre o Bairro de Santana (Colégio Santana) e a Avenida Paulista (região do MASP). É preciso dar a ele o merecido crédito, pois fazia experimentos avançados para a época em um país sem tradição científica e fora do eixo das grandes invenções, a Europa do começo do século XX.
Outro herói anônimo é o marechal Henrique Baptista Duffles Teixeira Lott, que foi apelidado pela história de o “marechal democrata”, o homem que enquanto esteve no poder e embora sendo um militar, procurou com todas as suas forças escutar a voz do povo e dar voz às urnas. Adiou o quanto pode e até tentou evitar o golpe militar no Brasil. Henrique Lott veio de uma família ilustre, mas que estava em dificuldades financeiras, cursou a academia militar, e se obrigava a ser o primeiro da classe, regido pelas disciplinas paterna e materna que o fez aprender inglês e francês em casa, através da leitura de livros. Henrique Lott logo teve que exercer a disciplina ensinada pelo pai, pois tinha com seu soldo uma família para alimentar em casa. Sua mãe impôs a ele que enquanto fosse o primeiro da classe no Colégio Militar ele e os irmãos teriam direito de comer uma lata de sardinha importada nos almoços de sábado. Enquanto ele esteve no Colégio Militar nunca houve um só almoço de sábado que não houvesse sardinha em casa.
Lott é definido como “O Soldado Absoluto” pelo jornalista Wagner William em seu livro, e é tido como um democrata admirado por políticos de esquerda, sem qualquer afinidade ideológica com ele, e odiado pelos que usavam a farda do Exército ao engendrarem o golpe militar de 1964. Isto porque em 1955, o general Lott, evitou a antecipação da ditadura militar no Brasil em nove anos, ao dar um golpe para evitar um golpe militar, e permitir que o presidente eleito nas urnas tomasse posse, um dos presidentes mais populares da história do país. Juscelino Kubitschek de Oliveira não teria levado a termo seu governo se o ministro Lott não se tornasse seu fiel escudeiro e pregasse que as forças armadas fossem a guardiã da democracia e a defesa da nação, mas com isso tornou-se o maior rival de outro general, Castello Branco.
Jânio Quadros poderia ter perdido a eleição presidencial para a sucessão de Juscelino, se Lott, sendo o outro candidato, não tivesse feito uma campanha em que se recusava entrar no toma lá dá cá da política nacional.
Lott foi um militar que admirava a democracia, foi ministro e foi candidato que se colocou à disposição do povo em sufrágio, evitando o proselitismo e sucumbindo ao populismo barato do Sr. Jânio Quadros.
Temos, portanto nossos ídolos e heróis, como em qualquer parte do mundo, alguns livros já foram escritos sobre eles, pois fizeram parte da construção desta grande nação. Dar conhecimento às atuais gerações das pessoas que dedicaram sua vida para melhorar a sociedade é um ato de civilidade e patriotismo. Quantos ainda estarão totalmente desconhecidos e no anonimato?
Primeira parte publicada na Coluna Ponto de Vista do Jornal Correio de Uberlândia em 04/01/2012.
Primeira parte publicada na Coluna Ponto de Vista do Jornal Correio de Uberlândia em 04/01/2012.