domingo, 18 de setembro de 2011

Aumento de IPI para os importados?


O governo federal aumenta o IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados em 28% dos veículos que tenham menos de 67% de componentes nacionais. Na retórica governamental é uma medida para proteger a indústria e os trabalhadores da indústria automobilística nacional. Uma medida muito louvável sob esse ponto de vista, oferecer vantagens à indústria nacional, para manter os empregos no Brasil. Mas após alguma lucubração cerebral, porque não fazer isso com toda a indústria? O que tem a indústria automobilística de especial? Porque não sobretaxar os têxteis, os calçados e o aço importados? Com a indústria têxtil, os calçados e a indústria do aço estão acontecendo a mesma coisa, a pressão dos importados inviabiliza a produção nacional.
Em recente pesquisa para a indústria metal mecânica o Prof. Germano Mendes de Paula do Instituto de Economia da UFU ressalta o prejuízo que a indústria de aços finos vem sofrendo da pirataria internacional. Não é somente a indústria automobilística que precisa ser protegida, mas toda a indústria nacional.
 Vamos analisar esta medida sob o ponto de vista do consumidor. O que estava acontecendo com os automóveis é que mesmo pagando a mesma quantidade de impostos, o automóvel importado chegava ao nosso país mais barato que o produto nacional. Isso em economia de mercado forçaria os fabricantes nacionais a baixarem seus lucros e vender os automóveis pelo mesmo preço da concorrência importada.
Portanto vejamos, um automóvel de luxo de certo fabricante multinacional, que tem fábrica no Brasil, é vendido no Brasil na faixa de R$ 80 mil a R$ 100 mil, dependendo dos acessórios, veículo idêntico, que sai da mesma fábrica no México, vendido nos EUA sai na faixa de R$ 32 mil a R$ 40 mil. Dirão os senhores, mas os EUA e México possuem acordos bilaterais de tarifa de importação zero. Detalhe, o Brasil possui com o México o mesmo acordo bilateral de tarifa de importação zero. Porque então a diferença no preço? O imposto acumulado de mais de 50%, mesmo existindo o acordo bilateral de tarifa zero. E isso acontece com todos os fabricantes multinacionais que possuem fábrica no Brasil.
O aumento do imposto dos importados agora, além de proteger a industrial nacional que vende aqui os carros mais caros do mundo, está garantindo a comercialização de carros que não teriam condições de competir com os carros que vem do exterior. Como uma moeda sempre tem duas faces, nós continuaremos a pagar caro para ter automóveis que em qualquer lugar do mundo podem ser comprados por até um terço do preço que pagamos aqui. Além de proteger a indústria nacional, o que é muito louvável, estamos aumentando impostos dos importados que competem com uma indústria que cobra muito caro pelo seu produto e que conta com a proteção do governo que também cobra impostos aviltantes de seus consumidores. Será que este aumento de tarifa dos importados não é para proteger a arrecadação de impostos escorchantes que pagamos junto com os automóveis?

A retórica do governo pegou bem, mas quem foi pego mesmo foi o nosso bolso, quem sabe agora esta medida de vazão aos milhares de carros nacionais que estão encalhados nos pátios das montadoras. A retórica pegaria melhor ainda se o governo recomendasse também às montadoras que baixassem seus preços e lucros.


Prof. José R. Camacho

Publicado no Correio de Uberlândia em 20/09/2011.

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