domingo, 23 de janeiro de 2011

O Brasil e os Imigrantes


No final do século XIX, começo do século XX o Brasil abre as portas à imigração estrangeira, naquele momento o país reconhecia que era muito grande para a população que possuía. Uma série de fatores mundiais contribuiu para que o nosso país se tornasse atraente para muitos miseráveis ao redor do mundo no começo do século passado, todos eles vítimas de guerras, revoluções, catástrofes econômicas ou simplesmente da falta de oportunidade em seus países de origem.

Buscando novos horizontes vieram Japoneses, Italianos, Espanhóis, Alemães, Poloneses, Ucranianos, e tantas outras nacionalidades, sem mencionar os Portugueses que estão aqui desde o descobrimento. A todos o Brasil acolheu como a "terra prometida". Em contrapartida o trabalho de sol a sol destes imigrantes ajudou a transformar o país, e seus filhos passaram a ser chamados de brasileiros. Conheço histórias de imigrantes que chegaram ao Brasil em 1929, vieram com muita vontade de trabalhar e alguns baús onde reuniam o pouco que possuíam; além da família, algumas roupas e ferramentas agrícolas.

Viagem longa no navio Almirante Alexandrino do Lloyd Brasileiro, vinte dois (22) dias no mar para cruzar o Atlãntico Sul, uma viagem que se faz hoje de avião em no máximo 12 horas. Viajavam na terceira classe, que é aquela mais próxima do porão. Para dar de comer à familia, a matriarca do clã lavava as roupas do capitão, pelo menos naqueles dias o sustento estava garantido. Após o desembarque em Santos a realidade seria outra e talvez a caridade local e os conterrâneos que já estavam na terra prometida haveriam de ajudar. Trabalharam de sol a sol e 31 anos depois o Brasil os fez ricos com uma enorme e maravilhosa família, esta terra abençoada, Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, foi para eles à época o porto seguro num mundo conturbado. Esta é uma história que com pequenas diferenças se aplica a todas as nacionalidades que se abrigaram em nosso país e aqui consolidaram família e futuro.

O mais empolgante é que quando se busca por estes fragmentos perdidos de nossa história familiar, você acaba desembarcando no "Memorial do Imigrante" em São Paulo, para onde vinham de trem os estrangeiros que desembarcavam em Santos. É um conjunto de prédios antigos, que hoje se encontra em processo de restauro e deve assim continuar até o fim de 2011, este projeto procura resgatar um pouco da história daqueles que adotaram esta terra como a sua própria pátria. Tanto adotaram esta terra que acabaram ficando plantados aqui para a eternidade.

Aí você se transporta para o século passado e entre fotos, objetos da época e a "memorabilia" recolhida com famílias de imigrantes se percebe toda a dificuldade daqueles dias, e todo o sacrifício em busca de um mundo melhor, o mundo que estamos vivendo hoje. Naqueles rostos sofridos que chegavam à "Hospedaria dos Imigrantes", como o local era chamado na época, esperava-os a hospitalidade de um Brasil em que havia muito por fazer. Tomar um banho quente, cortar o cabelo e fazer a barba eram luxos que para muitos não eram vistos há pelo menos um mês.

Estas linhas foram escritas em atenção ao historiador uberlandense senhor Antonio Pereira da Silva que ao publicar seu livro "Velhos Italianos do Uberabinha", sobre a imigração italiana em nossa cidade e região, resgata fatos para a história e rende homenagem a todos os imigrantes que vieram para o Brasil quer seja no Triângulo das Minas Gerais, em São paulo, e em outros estados. Tributo também à forte contribuição desses imigrantes para a nossa cultura, para a gastronomia e para educar o nosso povo à aceitação de novos usos e costumes, tornando o país mais tolerante às diferenças culturais e religiosas. Hoje em nosso país convivem todas as nacionalidades com o objetivo de paz e prosperidade.

Não esquecer os imigrantes e seus descendentes é muito importante, pois o que foi realizado por eles se arraigou de tal forma em nossa cultura que hoje é impossível retirá-los de nossas entranhas. Conhecer o passado é entender o presente e se preparar para o futuro, pois a vida se renova e é sempre bom lembrar que a história se repete e novos imigrantes chegam ao Brasil todos os dias para renovar a nossa história.

Prof. José R. Camacho

sábado, 15 de janeiro de 2011

A cidade e o meio ambiente.


Neste início de ano, em sua primeira visita à Uberlândia, o Governador Antonio Anastasia vem dar  início a obras de infraestrutura. A mídia divulga modificações viárias na cidade anunciando a construção de novos viadutos e intervenções na Avenida Rondon Pacheco, passando também pelo lançamento da pedra fundamental  de um "condomínio ecológico" com 3,5 mil apartamentos do programa "Minha Casa, Minha Vida".

A partir desta notícia é preciso que sejam feitas algumas reflexões sobre o que é divulgado na mídia. Um pouco de cautela e a necessária consulta popular é sempre desejável em projetos que causam impacto em toda a população que tem que se locomover entre o centro da cidade e seus bairros. É também imprescindível conhecer o impacto ambiental de certas medidas visto que a Avenida Rondon Pacheco encontra-se em um vale e está sobre o córrego São Pedro, um importante afluente do Rio Uberabinha. 

Circulam os boatos, à boca pequena, que o plano é construir mais dois ou três viadutos sobre a avenida, além do alargamento das pistas em mais uma faixa de rolamento de cada lado. A percepção que se tem, à distância, é que os projetos já estão sendo feitos e nenhuma consulta popular foi posta em prática. Grandes cidades no Brasil já começam a pensar em reduzir o espaço para veículos criando medidas para que forcem a população a utilizar transporte de massa. Em nossa cidade ainda estamos na fase de aumentar espaço para os veículos retirando espaço do homem.

Com estas medidas, praças e canteiros de avenidas são reduzidos, pistas laterais espremidas, isto feito em vales naturais onde a natureza designou que ali haveria um rio, que durante os períodos das chuvas extravasaria em até quatro ou cinco vezes a sua vazão em períodos de seca. Particularmente a referida avenida já esteve no noticiário local e nacional em períodos de fortes chuvas que causaram inundações, prejuízos públicos e privados, além de perdas preciosas de vida humana. É deveras preocupante o fato de projetos estarem sendo desenvolvidos e ainda não se ouviu falar na mídia em consulta popular sobre o assunto.

O que se espera é que antes que estas obras sejam iniciadas ou até aprovadas, se já não o foram, que os gestores públicos se acautelem e consultem a população sobre estas obras que irão causar impacto de uma maneira ou de outra em toda a população que se utiliza dos meios de transporte existentes em nossa cidade. Mais importante que isso é, qual o impacto que estas intervenções causarão em nossa cidade  ao longo das estações do ano? As previsões meteorológicas indicam que os verões daqui para frente virão com chuvas de dimensões amazônicas.

De muita cautela devem se munir os gestores, pois as modificações no clima estão acontecendo em um velocidade jamais imaginada, e é necessário certo planejamento tendo em mente os impactos que as mudanças no clima, e no regime de chuvas terão sobre estas obras em certo espaço de tempo. Uma forma de minimizar os riscos de uma obra que a médio prazo pode se tornar uma dor de cabeça para as futuras administrações é a combinação da solução viária com a melhoria de obras de infraestrutura, como o gerenciamento de escoamento de águas pluviais.

A consulta pública e a consultoria com órgãos independentes multidisciplinares podem contribuir para que essas obras sejam acompanhadas de intervenções que visem minimizar o efeito das modificações climáticas que estão por vir. A previsão é de que chuvas cada vez mais fortes e intensas ocorram em todas as regiões do país, estas ocorrências por certo exigirão uma mudança comportamental dos planejadores comunitários para que não tenhamos prejuízos futuros com o que está sendo projetado agora.


A consulta à população precisa ser feita, pois os que se sentirem afetados e aqueles que vislumbram potenciais riscos de insucesso para o empreendimento tem espaço para se manifestar. Fica aí então a sugestão para que os nossos gestores municipais busquem o apoio da população para que sejam executadas de forma participativa as obras que a cidade tanto necessita.

Prof. J.R. Camacho
UFU - Eng. Elétrica
jrcamacho@ufu.br

Publicado na Seção Ponto de Vista do Jornal Correio de Uberlândia do dia 19/01/2011.