sábado, 15 de janeiro de 2011

A cidade e o meio ambiente.


Neste início de ano, em sua primeira visita à Uberlândia, o Governador Antonio Anastasia vem dar  início a obras de infraestrutura. A mídia divulga modificações viárias na cidade anunciando a construção de novos viadutos e intervenções na Avenida Rondon Pacheco, passando também pelo lançamento da pedra fundamental  de um "condomínio ecológico" com 3,5 mil apartamentos do programa "Minha Casa, Minha Vida".

A partir desta notícia é preciso que sejam feitas algumas reflexões sobre o que é divulgado na mídia. Um pouco de cautela e a necessária consulta popular é sempre desejável em projetos que causam impacto em toda a população que tem que se locomover entre o centro da cidade e seus bairros. É também imprescindível conhecer o impacto ambiental de certas medidas visto que a Avenida Rondon Pacheco encontra-se em um vale e está sobre o córrego São Pedro, um importante afluente do Rio Uberabinha. 

Circulam os boatos, à boca pequena, que o plano é construir mais dois ou três viadutos sobre a avenida, além do alargamento das pistas em mais uma faixa de rolamento de cada lado. A percepção que se tem, à distância, é que os projetos já estão sendo feitos e nenhuma consulta popular foi posta em prática. Grandes cidades no Brasil já começam a pensar em reduzir o espaço para veículos criando medidas para que forcem a população a utilizar transporte de massa. Em nossa cidade ainda estamos na fase de aumentar espaço para os veículos retirando espaço do homem.

Com estas medidas, praças e canteiros de avenidas são reduzidos, pistas laterais espremidas, isto feito em vales naturais onde a natureza designou que ali haveria um rio, que durante os períodos das chuvas extravasaria em até quatro ou cinco vezes a sua vazão em períodos de seca. Particularmente a referida avenida já esteve no noticiário local e nacional em períodos de fortes chuvas que causaram inundações, prejuízos públicos e privados, além de perdas preciosas de vida humana. É deveras preocupante o fato de projetos estarem sendo desenvolvidos e ainda não se ouviu falar na mídia em consulta popular sobre o assunto.

O que se espera é que antes que estas obras sejam iniciadas ou até aprovadas, se já não o foram, que os gestores públicos se acautelem e consultem a população sobre estas obras que irão causar impacto de uma maneira ou de outra em toda a população que se utiliza dos meios de transporte existentes em nossa cidade. Mais importante que isso é, qual o impacto que estas intervenções causarão em nossa cidade  ao longo das estações do ano? As previsões meteorológicas indicam que os verões daqui para frente virão com chuvas de dimensões amazônicas.

De muita cautela devem se munir os gestores, pois as modificações no clima estão acontecendo em um velocidade jamais imaginada, e é necessário certo planejamento tendo em mente os impactos que as mudanças no clima, e no regime de chuvas terão sobre estas obras em certo espaço de tempo. Uma forma de minimizar os riscos de uma obra que a médio prazo pode se tornar uma dor de cabeça para as futuras administrações é a combinação da solução viária com a melhoria de obras de infraestrutura, como o gerenciamento de escoamento de águas pluviais.

A consulta pública e a consultoria com órgãos independentes multidisciplinares podem contribuir para que essas obras sejam acompanhadas de intervenções que visem minimizar o efeito das modificações climáticas que estão por vir. A previsão é de que chuvas cada vez mais fortes e intensas ocorram em todas as regiões do país, estas ocorrências por certo exigirão uma mudança comportamental dos planejadores comunitários para que não tenhamos prejuízos futuros com o que está sendo projetado agora.


A consulta à população precisa ser feita, pois os que se sentirem afetados e aqueles que vislumbram potenciais riscos de insucesso para o empreendimento tem espaço para se manifestar. Fica aí então a sugestão para que os nossos gestores municipais busquem o apoio da população para que sejam executadas de forma participativa as obras que a cidade tanto necessita.

Prof. J.R. Camacho
UFU - Eng. Elétrica
jrcamacho@ufu.br

Publicado na Seção Ponto de Vista do Jornal Correio de Uberlândia do dia 19/01/2011. 

Um comentário:

Paulo Rogério Luciano disse...

parabens pelo post. sou artista plastico professor tb. tenho procurado pensar UBERLANDIA e fazer tb criticas construtivas para pensarmos uma cidade melhor.

conheça alguns de meus trabalhos fotográficos que procuram questionar sobre pra onde caminha a nossa UBERLANDIA (A CIDADE IMAGINADA): http://www.flickr.com/photos/paulorogerioluciano/sets/72157625600669900