quinta-feira, 17 de março de 2011

O direito de ir e vir.


Ao tomar conhecimento dos planos futuros para o deslocamento de pessoas em nossa cidade, fica impossível não criticar a visão de curto prazo do planejamento urbano municipal embutido nos novos projetos. O poder público municipal continua privilegiando o transporte individual ou de pequena escala em detrimento de meios de transporte ecologicamente corretos e que contribuam para um menor impacto ambiental.

A cidade vislumbra em futuro próximo uma população de um milhão de habitantes, enquanto a cidade cresce, deveria surgir junto com ela o aproveitamento das largas avenidas para implantação de um eficiente sistema de transporte metropolitano de superfície. Um sistema com veículos mais silenciosos e menos poluentes que os ultrapassados ônibus que circulam hoje em nossa cidade. Privilegiar a circulação de pessoas a pé ou em ciclovias nas grandes cidades é uma necessidade.

Um sistema de transporte eletrificado metropolitano leve de superfície pode ter um investimento inicial alto, mas a confiabilidade e durabilidade são muitas vezes maiores que o seu concorrente de baixo custo.  Sem falar na manutenção muito mais barata, em intervalos muito maiores e com um numero muito maior de passageiros transportados por viagem, uma vez que uma composição pode ser interligada por até três carros.

Apesar do sucesso dos sistemas de metro na Europa após a segunda guerra mundial nas décadas mais recentes se observa uma escassez de fundos governamentais para projetos de transporte de massa em larga escala, isto força as cidades a desenvolver abordagens alternativas para o transporte público. O termo “trem leve de passageiro” foi usado pela primeira vez em 1972 para descrever um serviço com sistemas de trens leves de menor capacidade do que os tradicionais sistemas de metrô, operando principalmente em rotas de superfície muitas compartilhando o trafego nas ruas, evitando os altos custos associados com a construção de linhas subterrâneas.

Seria interessante pesquisar o transporte metropolitano leve eletrificado de superfície construído em cidades como Sydney (Australia), Atlanta, Boston, São Francisco e Filadélfia (EUA), Porto (Portugal) e muitas outras cidades de médio porte na Europa transformaram as antigas linhas de bondes em modernos sistemas de trens leves.

Intervenções feitas hoje em nossa cidade afetarão e podem até inviabilizar este tipo de solução uma vez que viadutos, pontes e trincheiras construídos hoje se transformam em obstáculos futuros para a adoção de um determinado tipo de solução. Planejamento urbano se faz em curto, médio e longo prazo. Uma importante preocupação de planejadores urbanos é, ou deveria ser, se as medidas adotadas hoje não inviabilizarão as melhores soluções daqui a cinco ou dez anos?

Soluções ecologicamente mais atraentes são bastante divulgadas pela mídia, ou seja, não faltam pessoas que concordem que estamos caminhando para uma situação insustentável, mas o que se observa é que do discurso à prática existe uma distância muito grande. A maioria das pessoas concorda que é necessário intervir e modificar a forma de ir e vir nas grandes cidades. Mas o interessante é que quando as cidades ainda estão em crescimento, e um dia elas serão grandes, não surge nenhum planejamento para pensar a forma de ir e vir no futuro. Como será a nossa forma de ir e vir após o milhão de habitantes? A mesma?


Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 06/05/2011