domingo, 28 de setembro de 2014

Limitadores de velocidade?


Nos Estados Unidos e Canadá está sendo discutida uma legislação para colocar limitadores de velocidade nos veículos de transporte pesado. Com a evolução da tecnologia esses veículos têm todos os recursos de um carro de passeio, direção hidráulica, cambio automático, computador de bordo com as mais diversas facilidades. São tão sofisticados que um motorista de carro de passeio sem nenhum treinamento é incapaz de colocar um desses veículos em movimento. Com toda essa tecnologia, a pessoa treinada que está ao volante perde totalmente a sensação das dimensões e do peso do veiculo e da carga que está transportando.

Isso é um perigo, pois estes veículos transportam pesos de até 50 toneladas que é impossível de ser parado em curto espaço quando em altas velocidades. O fato alarmante é que esses veículos são conduzidos por motoristas que andam em nossas rodovias de pista simples como se fossem automóveis de passeio. Possuem motores possantes que os levam a 110 km/h ou mais com a maior facilidade. Mas o problema não é a potência dos motores, é a dificuldade de parar quando se está a essa velocidade puxando um peso de 50 toneladas. Essa carga enorme com inércia equivalente torna difícil a frenagem e as mudanças rápidas de direção.

Não é preciso ir longe, para isso basta assistir os noticiários dos acidentes envolvendo veículos pesados no Brasil, são sempre situações em que o motorista do veiculo acaba se envolvendo em um acidente por avaliar mal o tamanho e peso do veículo que conduz. Nestas avaliações mal feitas se envolvem veículos leves que pela diferença de tamanho e peso resulta em acidentes horríveis com mortes e pessoas feridas que ficarão com marcas para o resto de suas vidas.

Caminhões pesados equipados com limitadores de velocidades são atraentes pois além de reduzir a possibilidade de acidentes existe ainda os fatores de economia de combustível anual e a redução do efeito estufa pela diminuição na emissão de poluentes. Só estes três fatores são mais do que suficientes para o estudo da obrigatoriedade de se utilizar estes limitadores de velocidade. Principalmente nas rodovias de pista simples onde o espaço entre veículos que cruzam é muito menor. É realmente assustador tentar ultrapassar um desses veículos de transporte pesado quando em alta velocidade.

É importante a avaliação se os limitadores de velocidade realmente reduzem o risco e a seriedade dos acidentes para caminhões pesados, além de se obter o impacto na segurança com a diferença de velocidade e nas iterações dos caminhões com os automóveis nas mais diferentes estradas em um ambiente com veículos equipados com  limitadores de velocidade.

Já existem países que possuem uma legislação nacional sobre limitadores de velocidade em vigor, estes países são a Austrália, o Reino Unido e a Suécia. A experiência desses países talvez seja uma importante fonte de informação sobre o quanto ela pode ser efetiva, levando-se em consideração a experiência dos proprietários de transportadoras, associações de motoristas de transporte pesado, da própria fiscalização governamental e de outros segmentos relacionados. Não seria hora de nós no Brasil começarmos a pensar no assunto? Uma vez que o desenvolvimento das ferrovias para transporte pesado ou é assolado pela praga da corrupção ou foi privatizado e anda a passo de tartaruga cansada.

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia
Coluna Ponto de Vista
Data: Domingo - 28/09/2014

sábado, 30 de agosto de 2014

Os eleitores e a política.

Uma característica marcante em nossa tradição política nas eleições presidenciais é a falta de programa claro dos candidatos presidenciáveis e com maiores chances de chegar ao poder. Juscelino Kubitschek de Oliveira foi endeusado e tinha um único plano "Interiorizar a capital do Brasil", com todas as mazelas de um projeto deste porte.

Os nossos candidatos também tem propostas mirabolantes. Um deles vai acabar com o problema da saúde em seu primeiro mandato. O outro no primeiro ano de governo vai resolver os problemas da educação e os pobres não pagarão mais impostos. Enquanto isso a velhinha de Taubaté se revira no túmulo. A candidata presidenta não menciona a crise em que estamos adentrando.

Grandes empresas do interior de São Paulo, mais precisamente na região de Ribeirão Preto estão demitindo empregados às centenas. A secretária de um sindicato se queixava de tendinite no braço direito devido ao preenchimento de rescisões de contrato de trabalho. Ela já teria preenchido num prazo de dois meses mais de seiscentas e assustada com a fila de demitidos à porta do sindicato tinha ainda mais umas trezentas para preencher.

Será que o Partido dos Trabalhadores está realmente preocupado com o que acontece com os trabalhadores em nosso país? Será que o candidato do PSDB vai tratar a opinião pública brasileira como a tratou em seu estado de origem? E com os trocados que amealhou com a economia no salário das pobres professorinhas construiu um centro administrativo de primeiro mundo. Mas os professores de seu estado continuam recebendo salários de terceiro mundo.

Já que estão todos tratando dos seus interesses, que tal os eleitores também se preocuparem com seus interesses e pedirem aos seus sindicatos para sabatinarem esses candidatos sobre seus planos para a educação, saúde e justiça no Brasil. Mais uma vez vamos votar no menos pior? Quem será o menos pior? Será a candidata da situação que nos deu reajuste menor que a inflação corrente nos últimos três anos? Será que é o candidato da oposição? Para ele fazer economia é sonegar reajuste e enxugar a máquina do estado.

Ou será que é a candidata da terceira via? Que não sabe que uma termelétrica é feita para gerar energia de forma contínua e que sem gerar energia produz despesa das grandes para o estado. Além disso, as termelétricas não são mais o problema ambiental que era há décadas atrás. Será que os candidatos sabem que a biomassa da cana de açúcar está sendo subutilizada na produção de energia elétrica. Montanhas de bagaço de cana se acumulam na região de Ribeirão Preto sem incentivos governamentais para o seu pleno aproveitamento em um período de falta d’água e com reservatórios de hidroelétricas incrivelmente deplecionados, a ponto de colocar em risco a produção de energia firme para o atendimento dos consumidores nos horários de maior demanda.

A falta de programa de nossos candidatos é marcante, e parece que vão criando metas a partir de uma desordenada grita dos eleitores e da mídia, o que só produz desconfiança, soma-se a isso um período de propaganda eleitoral que serve mais para criar factoides do que criar oportunidade de informar os eleitores sobre quem é o mais capacitado. A nós eleitores só resta esperar a poeira baixar e votar no menos pior.

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia
Coluna Ponto de Vista
Data: 26/08/2014

terça-feira, 6 de maio de 2014

A nossa gasolina.

 
A gasolina no nosso país poderia ter vários nomes, menos "gasolina", pois isso é o que ela não é. Com 24% a 27% de etanol, este nosso combustível poderia chamar-se "gasonol" ou "etalina", dessa forma os distribuidores de combustíveis seriam mais honestos com o consumidor brasileiro. O mais incrível é que os nossos veículos tem que estar "preparados" para este coquetel "molotov", ou seja funcionam bem com 24% a 100% de etanol no tanque e portanto não funcionam bem com gasolina pura.

Antes de evoluirmos para o desonesto preço dos combustíveis em nosso país, vamos contar uma história da ginástica que faz um taxista brasileiro para comprar gasolina barata e pura na Argentina sem danificar o motor do seu veiculo brasileiro viciado em etanol. Então vejamos o tanque do veiculo do taxista tem 55 litros, com tanque praticamente vazio ele vai ao posto brasileiro e abastece 16 litros de etanol. Conduz turistas à Argentina e lá abastece até encher na boca o tanque com a gasolina pura a R$ 2,60 o litro. Mais barata que o nosso etanol.

Ele faz toda essa manobra porque se ele abastecer somente com gasolina, depois de alguns milhares de quilômetros seu motor brasileiro começará a grilar e apresentar problemas mecânicos reclamando da excelente qualidade da gasolina que está consumindo. Portanto os fabricantes de veículos tem que adequar seus motores para nossa gasolina especial. Agora imagine que você tem um carro "flex" e resolve viajar para a Argentina e Chile de automóvel naquelas férias que você sonhou a vida inteira. Não faça isso, compre um veiculo diesel. Esse combustível tem sua venda restrita no Brasil somente para veículos de transporte e utilitários.

Vejamos então a incoerência. Temos um grupo de países num conglomerado econômico chamado Mercosul, em que os outros países, com exceção do Brasil vendem gasolina pura, parte dela refinada no Brasil, em que os cidadãos brasileiros são impedidos de trafegar com veículos à gasolina sob pena de na volta terem que trocar ou recondicionar o motor dos seus automóveis. Vamos analisar agora os preços da gasolina e do etanol em nossa cidade.

A gasolina mais cara em Uberlândia, hoje, 30/04/2014, está em R$ 3,30 e o etanol mais caro em R$ 2,30. Considerando que a nossa gasolina tem 26% de etanol, um litro da gasolina pura custaria em nossa cidade R$ 4,46. Observe que o preço do etanol em nossa cidade é um pouco menor que o preço da gasolina pura na Argentina. Se praticássemos aqui o preço da gasolina pura na Argentina, provavelmente importada do Brasil, e o escorchante preço do nosso etanol, o preço do nosso "gasonol" teria que ser em reais por litro: 2,60 x 0,74 + 2,30 x 0,26 = R$ 2,52.

Fica para este leigo consumidor de combustível concluir que toda essa diferença de preços é por conta dos impostos que temos no Brasil. Mas ainda fica a pergunta que não quer calar, como a gasolina pura na Argentina que provavelmente é importada do Brasil pode custar mais barato que a nosso "gasonol"? Ou seria "etalina"? De qualquer forma se fosse adotado um desses nomes parra a nossa gasolina nos postos de combustível do Brasil soaria como coisa pouco séria e até charlatanismo para ludibriar o consumidor. Como diria um frentista do posto em que abasteço costumeiramente: - Vai aí uma gasolina adulterada e cara professor?

terça-feira, 8 de abril de 2014

31 de março


Em 31 de março de 1964 a nação brasileira pacífica e ordeira conheceu o perigo da influência armada na política nacional. O perigo de uma intervenção estrangeira nunca fora tão próxima dentro de nossas fronteiras. O então presidente João Belchior Marques Goulart informado do perigo que a nação corria em ato de extrema coragem e generosidade para com o povo brasileiro deixou que lhe tomassem o cargo que pelo direito do voto havia conquistado, o de Presidente da República.

João Goulart era um riquíssimo latifundiário gaúcho que queria um país mais humano para os seus cidadãos. Tanto queria isso que durante o seu governo entre outras medidas criou a Secretaria Especial para a Reforma Agrária, estimulou que todos os trabalhadores participassem de sua administração e deu a eles voz e poder junto ao governo federal. Além disso restringiu a remessa de lucros das empresas estrangeiras para fora do país. Medidas desse tipo fizeram com que fosse acusado de comunista e fosse covardemente defenestrado de seu posto de trabalho. Um posto conquistado licitamente através do voto.

E veio a revolução de 1964 que jogou no limbo a cultura e o saber nacional. Que perseguiu eminente políticos entre outros o próprio Jango, JK os professores Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e Almir de Castro, além dos renomados físicos Mário Schenberg, José Leite Lopes, Jayme Tiomno e Elisa Frota-Pessoa aposentados e sumariamente demitidos de suas cátedras. Muitos foram os casos desse tipo que pipocaram pelo país e nomear todos eles seria praticamente impossível.

O teatro, o cinema e a música foram censurados, não havia liberdade de expressão e o país regrediu enormemente em termos políticos, transformando toda uma geração de brasileiros que passaram a enxergar a política como algo proibido. Pois nesta época não podiam ser questionados os atos do governo ou não se podia discutir política ou simplesmente expressar repulsa pelo que de errado acontecia no país. Esse legado letárgico em relação a política carregamos todos os brasileiros de nossa geração.

Sofremos enorme atraso cultural e técnico com grandes pensadores sendo simplesmente exilados em outros países, nesta época saíram do país desde ex-presidentes da república, até simples militares de baixa patente que não se conformavam com os rumos do país. Passando por artistas, renomados professores e cientistas, enfim brasileiros democratas de todo naipe e profissão. Um país acolhedor em que de repente vê seus filhos lutarem uns contra os outros por questões ideológicas e políticas. Muitos foram os perseguidos e a elite brasileira passou a se envergonhar da revolução que tinha patrocinado ou no mínimo pecado por omissão. Está tudo registrado em inúmeras publicações escritas por jornalistas sobre esse período.

A pergunta hoje é: - O que temos a comemorar do período ditatorial brasileiro? Nada? - Porque temos que relembrá-lo sempre? Porque é uma situação a que não queremos mais ver nosso povo submetido. Um povo ordeiro, laborioso e cordial, que procura esquecer suas mazelas com muita música, amizades e amor à vida. É preciso dar conhecimento às novas gerações do que foi e o que aconteceu durante nossos períodos ditatoriais para que não sejamos forçados, por divergências políticas, a ver brasileiro contra brasileiro em guerra por questões ideológicas. Foi um período de nosso passado histórico que deve ser contado de forma verdadeira para as nossas novas gerações para que períodos deste tipo não se repitam em nossa história.

Publicado na coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 06/04/2014

domingo, 16 de março de 2014

O estágio

Todo estudante de ensino superior sonha com o estágio. Período no qual o indivíduo passa de simples estudante a um profissional da empresa que pretende ser reconhecido pela sua formação e talento profissional. As universidades exigem o estágio supervisionado para complementar a formação do estudante e as empresas acham interessante para treinar o indivíduo e avaliar suas potencialidades, que vão além da pura formação técnica.

Esse é o real objetivo do estágio, mas o que está escrito acima quase nunca acontece, quando acontece é a partir de empresas que realmente valorizam seus empregados e sabem que é preciso respeitá-lo a partir de seus primeiros passos na profissão. Verificar as competências profissionais do cidadão passa pela observação e capacidade de executar tarefas. Já algumas empresas, desde o período de estágio, avalia a pessoa pela quantidade de trabalho realizado e não pela qualidade do que é executado.

Empresas inescrupulosas contratam estagiários, pagam proventos de estágio e os tratam como se profissionais fossem. Onde estão os órgãos de fiscalização profissional em nosso país para coibir este abuso? A prática se espalha por grande parte das empresas que contratam profissionais de ensino superior no Brasil. São estagiários que muito antes de adquirirem seus diplomas e registro profissional já trabalham como se fossem profissionais diplomados, ganhando bem abaixo do que reza a boa prática do exercício profissional.

Tudo isso é reflexo da inversão de valores pela qual passa o país atualmente. Estudantes pensam que já são profissionais antes mesmo de terminar o curso de graduação, as empresas os enganam dando “status” de profissionais com formação, pagando salários de estagiário. Isso não é bom para o estudante, não é bom para a universidade e tampouco ajuda na formação de bons profissionais em nosso país.

O estagiário virou um profissional presente em todas as empresas. Ele já tem uma boa formação, não é um especialista, pode ser moldado para idolatrar a empresa em que trabalha, e o melhor de tudo, é um profissional barato para a formação que já possui. Acontece que, devido à ineficiente fiscalização brasileira, algumas espertezas ocorrem. Estagiários desempenham tarefas de profissionais já diplomados e os empregos não surgem na medida em que deveriam. Quem perde é o profissional brasileiro que assiste ainda às empresas trazerem de outros países os profissionais que lhes interessa.

O período de estágio deveria ser para solidificar conhecimentos teóricos adquiridos, mas o perfil quem traça hoje é o mercado. Os melhores empregos na área e tecnologia, por exemplo, são ocupados por profissionais de vasta experiência. Quando estes profissionais encerram a carreira ou se aposentam fica um vácuo enorme naquela área. Porque não investir em treinamento naquela área específica onde profissionais se aproximam da aposentadoria? Aí fica uma guerra entre empresas, uma roubando profissionais da outra. Quando um especialista se afasta, o que é que fica?

É preciso encarar o estágio de forma séria, como uma passagem da vida de estudos para a vida profissional. Em nossa vida, temos várias passagens. A passagem de criança para adolescente, de adolescente para vida adulta etc. Da mesma forma, passamos pelos ensinos de primeiro, segundo e terceiro graus. Onde cada etapa possui suas passagens. Da mesma forma, existe a passagem do terceiro grau para a vida profissional. Que deve ser encarada de forma muito séria, pois envolve a vida de um profissional que pode e deve servir à nação com seu conhecimento e o máximo de sua capacidade.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlandia
Data: 02/03/2014

Prof. José Roberto Camacho  - Eng. Elétrica
Uberlândia (MG)
jrcamacho@ufu.br