domingo, 16 de março de 2014

O estágio

Todo estudante de ensino superior sonha com o estágio. Período no qual o indivíduo passa de simples estudante a um profissional da empresa que pretende ser reconhecido pela sua formação e talento profissional. As universidades exigem o estágio supervisionado para complementar a formação do estudante e as empresas acham interessante para treinar o indivíduo e avaliar suas potencialidades, que vão além da pura formação técnica.

Esse é o real objetivo do estágio, mas o que está escrito acima quase nunca acontece, quando acontece é a partir de empresas que realmente valorizam seus empregados e sabem que é preciso respeitá-lo a partir de seus primeiros passos na profissão. Verificar as competências profissionais do cidadão passa pela observação e capacidade de executar tarefas. Já algumas empresas, desde o período de estágio, avalia a pessoa pela quantidade de trabalho realizado e não pela qualidade do que é executado.

Empresas inescrupulosas contratam estagiários, pagam proventos de estágio e os tratam como se profissionais fossem. Onde estão os órgãos de fiscalização profissional em nosso país para coibir este abuso? A prática se espalha por grande parte das empresas que contratam profissionais de ensino superior no Brasil. São estagiários que muito antes de adquirirem seus diplomas e registro profissional já trabalham como se fossem profissionais diplomados, ganhando bem abaixo do que reza a boa prática do exercício profissional.

Tudo isso é reflexo da inversão de valores pela qual passa o país atualmente. Estudantes pensam que já são profissionais antes mesmo de terminar o curso de graduação, as empresas os enganam dando “status” de profissionais com formação, pagando salários de estagiário. Isso não é bom para o estudante, não é bom para a universidade e tampouco ajuda na formação de bons profissionais em nosso país.

O estagiário virou um profissional presente em todas as empresas. Ele já tem uma boa formação, não é um especialista, pode ser moldado para idolatrar a empresa em que trabalha, e o melhor de tudo, é um profissional barato para a formação que já possui. Acontece que, devido à ineficiente fiscalização brasileira, algumas espertezas ocorrem. Estagiários desempenham tarefas de profissionais já diplomados e os empregos não surgem na medida em que deveriam. Quem perde é o profissional brasileiro que assiste ainda às empresas trazerem de outros países os profissionais que lhes interessa.

O período de estágio deveria ser para solidificar conhecimentos teóricos adquiridos, mas o perfil quem traça hoje é o mercado. Os melhores empregos na área e tecnologia, por exemplo, são ocupados por profissionais de vasta experiência. Quando estes profissionais encerram a carreira ou se aposentam fica um vácuo enorme naquela área. Porque não investir em treinamento naquela área específica onde profissionais se aproximam da aposentadoria? Aí fica uma guerra entre empresas, uma roubando profissionais da outra. Quando um especialista se afasta, o que é que fica?

É preciso encarar o estágio de forma séria, como uma passagem da vida de estudos para a vida profissional. Em nossa vida, temos várias passagens. A passagem de criança para adolescente, de adolescente para vida adulta etc. Da mesma forma, passamos pelos ensinos de primeiro, segundo e terceiro graus. Onde cada etapa possui suas passagens. Da mesma forma, existe a passagem do terceiro grau para a vida profissional. Que deve ser encarada de forma muito séria, pois envolve a vida de um profissional que pode e deve servir à nação com seu conhecimento e o máximo de sua capacidade.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlandia
Data: 02/03/2014

Prof. José Roberto Camacho  - Eng. Elétrica
Uberlândia (MG)
jrcamacho@ufu.br