sábado, 25 de dezembro de 2010

Trinta anos sem Goiá.


Gerson Coutinho da Silva (o Goiá) nasceu em Coromandel das Minas Gerais em 11 de Janeiro de 1935, foi um dos compositores mais talentosos da música sertaneja de raiz (a chamada música caipira), seus versos extremamente poéticos, em geral falam da saudade que o homem simples do campo sente ao se afastar dos amigos e do rincão querido para ir morar lá longe na cidade grande.

Como exemplo podemos citar a música "Saudade de Minha Terra", em parceria com Belmonte, uma das composições mais conhecidas, uma de suas estrofes faz a rima: "Que saudade imensa, do campo e do mato, Do manso regato que corta as campinas, Aos domingos ia, passear de canoa, Na linda lagoa de águas cristalinas." Suas letras eram recheadas de nostalgia, impregnadas da bela ingenuidade cabocla e das imagens do sertão brasileiro.

Sua vida foi marcada pela dicotomia entre o caipira e o sertanejo, onde o primeiro era aquele habitante do interior de conversa mansa e de poucas letras e o segundo era o articulado letrista com versos bem elaborados e linguajar impecável. Ao exaltar ao longo de toda a sua obra a saudade da terra natal, acabou por marcar de forma indelével o mapa da região como um dos férteis celeiros da música sertaneja de raiz do interior brasileiro, que tiveram também como membros os inesquecíveis Pena Branca e Xavantinho.

No próximo Janeiro de 2011, comemora-se 30 anos de seu desaparecimento, e no ano de 2010 foram comemorados os 75 anos de seu nascimento. Apesar de suas músicas serem gravadas ainda hoje com arranjos modernos, não se viu em praticamente nenhuma rádio da região qualquer movimento para comemorar essas datas. Seria muito nobre relembrar um homem que através da sua música colocou a região no mapa da música sertaneja brasileira.

Goiá faleceu em 20 de Janeiro de 1981, na cidade de Uberaba, e seu corpo transladado para sua Coromandel querida, nesse dia em sua recepção na terra querida, como sempre acontecia, não foiu saudado por rojões e muita música, mas por um enorme cortejo de carros e caminhões abarrotados por um grande número de fans entristecidos que seguiram o carro funerário até a igreja matriz, onde toda a cidade prestou a seu filho mais famoso as últimas homenagens. Foi enterrado na cidade e o seu túmulo contém somente as iniciais (GCS) onde ao lado há um pé de Cedro, plantado para sombrear sua última morada, um pedido feito em uma de suas mais de trezentas (300) composições.

Portanto é mais do que relevante que o rádio da região faça o seu papel para lembrar um homem que cantou os lindos rincões da terra querida. Suas músicas foram gravadas por cantores famosos como Zilo e Zalo, Milionário e José Rico, Xitãozinho e Xororó, Sérgio Reis, Ló Canhoto e Robertinho, Belmonte e Amaraí e tantos outros.

Esta mensagem é escrita para relembrar o ser humano e não esquecer sua passagem entre nós e que dedicado à sua família ao seu povo e à sua terra natal, deixou lindos versos que são popularmente reconhecidos como parte da verdadeira alma do interior das Minas Gerais. Esperamos que nos 30 anos do seu passamento, a mídia radiofônica de Uberlândia dedique ao menos um pequeno espaço para relembrar o cidadão Gerson Coutinho da Silva, o Goiá.

Prof.. José R. Camacho
UFU - Engenharia Elétrica
e.mail: jrcamacho@ufu.br

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Plantas medicinais, a fitoterapia e a destruição da natureza.


A medicina natural e as plantas que contribuem para o desenvolvimento dos tratamentos médicos baseados na natureza vêm sofrendo o ataque constante do avanço do homem sobre o meio ambiente Muito se fala em aquecimento global, mas poucos são os voluntários que se dispõe a preservar as espécies vegetais que contribuem para a saúde do homem sobre o planeta Terra. Especial atenção deve ser dedicada ao assunto aqui no Brasil, pois temos uma das maiores biodiversidade do mundo, se não for a maior.

O mais impressionante é que se folhearmos as mais conceituadas revistas internacionais de Medicina Natural, uma grande quantidade de estudos de alto nível pode ser encontrada, no que se refere a plantas encontradas no Brasil, e nem sempre são artigos escritos por brasileiros. O Ministério da Saúde criou o programa chamado PNMNPC – Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares, este programa trata da regulamentação e da garantia ao acesso dos usuários do SUS - Sistema Único de Saúde aos produtos e conceitos da medicina natural.

Entretanto esta mesma política não garante a preservação de espécies e o estudo de novas espécies para utilização dentro da medicina natural. É necessário que a política nacional de medicina natural saia do papel e venha para o campo. Hoje o que se vê são abnegados voluntários que com recursos próprios se atiram ao trabalho, quer seja no cerrado, na mata atlântica ou na floresta amazônica, em busca da salvação para milhares de espécies conhecidas, e outras ainda desconhecidas do maior de todos os predadores, o próprio homem.
Ao se traçar uma política governamental deste tipo o necessário é que se criem condições financeiras para que os centros de pesquisa passem a trabalhar de forma integrada com o objetivo maior que é a preservação do acervo natural em nosso país. Inclusive para a proteção dos nossos interesses sobre todo esse patrimônio, que vive sofrendo ataques e a cobiça de outras nações do globo. As denúncias neste campo vão desde situações suspeitas até estórias fantasiosas de conspiração que necessitam de confirmação idônea.

A bio-pirataria não conhece fronteiras entre nações, a cobiça dos gigantes produtores de fármacos está à espreita e a nova legislação internacional que trata do assunto protege de certa forma, nossos recursos naturais, mas não é garantia contra a pirataria. Ela não se constitui somente no contrabando de diversas formas de vida da flora e da fauna, mas principalmente, a apropriação e monopolização dos conhecimentos das populações tradicionais no que se refere ao uso dos recursos naturais.
Deve ser mencionado ainda o fato de estas populações estarem perdendo o controle destes recursos.  Situação que não é nova, a perda do conhecimento coletivo, que não é uma mercadoria que se pode comercializar como qualquer objeto no mercado. O avanço da tecnologia, e a facilidade do registro internacional de marcas e patentes, e os acordos internacionais de propriedade intelectual, os TRIPS – Tratados sobre Direito de Propriedade Intelectual Relacionado ao Comércio Internacional, as possibilidade de exploração se multiplicaram.
O Projeto de Lei nº 306 dispõe sobre os instrumentos de controle do acesso aos recursos genéticos do país e outras providências. Ele foi proposto em 1995, pela então Senadora Marina Silva, e enviado para a Câmara dos Deputados, onde permanece parado até hoje.
A quem interessa: - que não tenhamos a soberania sobre os recursos genéticos existentes no território nacional? - dificultar o acesso aos recursos genéticos para os empreendimentos nacionais? - a falta de promoção e apoio ao conhecimento e tecnologias dentro do país? - falta de proteção e incentivo à diversidade cultural? - a não garantia da biossegurança e da segurança alimentar do país? – a não garantia dos direitos sobre os conhecimentos associados à biodiversidade?
Sem uma legislação específica no país ficamos à mercê dos salteadores da biodiversidade, é preciso, portanto que surja algum político patriota, no Senado ou na Câmara dos Deputados, que resgate este projeto de lei no congresso nacional e o transforme em um mecanismo legal de proteção à nossa fauna e flora. Enquanto isso continua o trabalho dos voluntários com seus parcos recursos e seu trabalho de formiguinha tentando salvar o pouco que já se conhece de nossa biodiversidade.

Prof. José Roberto Camacho (PhD)
Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Engenharia Elétrica
Campus Santa Mônica
Uberlândia – Minas Gerais

Publicado em 11/01/2011 na coluna "Ponto de Vista" do Jornal Correio de Uberlândia.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um aprimoramento simples para Redes Inteligentes economiza energia.

Peter Fairley

Traduzido pelo Prof. José Roberto Camacho
Revista IEEE Spectrum - Outubro de 2010 - INT - Páginas 13 a 14

Menos é mais no que se refere a pão com bife (ao menos para o seu médico), e o mesmo parece agora ser verdade para as voltagens CA. Pesquisa desenvolvida pelo EPRI (Electric Power Research Institute), em Palo Alto, Califórnia, confirma que muitos dispositivos elétricos trabalham igualmente bem e consomem menos energia em tensões mais baixas, e este fato oferece para as concessionárias uma grande oportunidade de conservação de energia. Pelo corte da voltagem, elas cumprem seu papel, empresas de distribuição nos Estados Unidos poderiam diminuir em 3 porcento o apetite do país pelo consumo de energia - o equivalente a desligar todos os refrigeradores do país - de acordo com uma análise divulgada no último dia 20 de Agosto pelo Pacific Northwest National Laboratory (PNNL) do Departamento de Energia.

Algumas empresas estão encarando como um recuo o desencanto dos consumidores irritados em ralação aos medidores inteligentes, com o custo em tempo real para a eletricidade. Portanto, uma boa notícia para as empresas é de que tal redução na voltagem, ou CVR (Conservation Voltage Reduction), deve cortar o uso da energia sem pedir ao consumidor que mude o seu comportamento.

CVR opera dentro da pequena margem oferecida pela padronização em eletricidade. O padrão para os 120 Volts nominais em potência CA nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, recomenda de 114 a 126 Volts. A faixa é prática, dada a variação constante da demanda em um sistema de distribuição. As empresas geralmente medem e controlam a voltagem nas suas subestações e tem como objetivo o extremo superior da faixa para evitar a perda de consumidores nos finais das linhas. O resultado é que, na média, consumidores nos EUA recebem em média energia sob uma tensão de 122,5 Volts.

Até recentemente a maioria das empresas não observaram a necessidade de operar de forma diferente, assumindo que a tensão tinha um efeito desprezível na demanda por energia. E de fato esta suposição é verdadeira para algumas cargas. Aquecedores elétricos sob uma tensão mais baixa simplesmente funcionam por mais tempo para entregar a mesma quantidade de calor, resultando em nenhuma economia. Mas outros dispositivos podem funcionar em voltagens mais baixas executando menos trabalho. Por exemplo, no limite inferior da faixa as lâmpadas diminuem a luminosidade de forma imperceptível.

Os ítens mais vantajosos para o CVR parecem ser os motores de indução e ventiladores, refrigeradores e dúzias de aparelhos domésticos. Motores tem a tendência de operar a uma carga mecânica mais baixa co que aquela que estão preparados para suportar. como resultado, tensões mais altas geram campos magnéticos mais elevados do que o motor pode usar, jogando energia fora.

Empresas da costa do Pacífico no Noroeste dos Estados Unidos começaram a utilizar o potencial da CVR (conservação por redução de tensão) nos anos 90. Elas minimizaram a voltagem entregue pela medição mais próxima do consumidor com ajustande mais frequente. A tensão é controlada na subestação para cada linha de alimentador, que geralmente serve a uma vizinhança em conjunto. Um estudo influente em 2008 pela Northwest Energy Effiiciency Alliance, baseada em Portland, Oregon, analisou a experiência de seis empresas píoneiras em CVR e descobriu que para cada 1% de queda na voltagem entregue produzia 0,7 a 0,8% de queda na potência. E a maioria dos alimentadores poderiam ter a tensão diminuida de forma segura de 3 a 4 Volts.

Bob Uluski, um especialista em distribuição no EPRI, diz que muitas empresas estão explorando o CVR através de projetos pilotos financiados pelo fundo de recuperação econômica, e poucas, como a Progress Energy, em Raleigh, Carolina do Norte, estão trabalhando para utilização em larga escala. Para aquelas, instalando medidores inteligentes, CVR é natural, porque medidores inteligentes fornecem a voltagem em tempo real para guiar a diminuição da tensão: Se os níveis caem muito, muitos medidores inteligentes podem enviar sinais de alerta de volta para a concessionária. Entretanto, mesmo com os medidores inteligentes, as empresas ajustarão a voltagem alimentador por alimentador, mas não no nível de cada residência.

Uluski menciona que, o EPRI está desenvolvendo ferramentas mais precisas para ajudar as empresas a predizer quanto de energia o CVR pode economizar em cada alimentador. Isto deve ajudar a focar os investimentos em CVR, de acordo com o relatório do PNNL. O modelo no relatório sugere que a utilização do CVR em 40% dos alimentadores que apresentem melhores respostas em todo o país deve capturar 80% do potencial de economia de energia desta técnica. O EPRI está também quantificando como as cargas emergentes como as TVs de plasma e carros elétricos responderão ao CVR.

O maior obstáculo ao CVR, entretanto, permanece sendo o clássico problema de perda de receita que tem por longo tempo reprimido o impulso por conservação das empresas. Empresas que tiverem sucesso com o CVR venderão menos energia. Tom Wilson, presidente da desenvolvedora do sistema CVR a PCS UtilitiData, com base em Spokane, Washington, menciona que o problema da perda de receita tem feito com que a venda do CVR para as empresas seja um "caminho árduo".

Wilson diz que as mudanças estão a caminho, uma vez que os agentes reguladores se tornam mais criativos na recompensa às empresas pelos "nega-watts" de energia economizada através de programas de conservação. Em vez de esperar, ele diz que a PCS está comercializando o CVR para grandes consumidores de energia tais como indústrias e universidades. Eles tem a força para pressionar as empresas concessionárias a adotar o CVR em seus alimentadores, menciona Wilson.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Smart Grid: Uma Rede de Energia Elétrica Inteligente?

O que é uma rede de energia elétrica inteligente? Este tipo de rede, diferentemente do que temos hoje, é capaz de perceber as sobrecargas do sistema e fazer um rearranjo nas rotas de energia para prevenir ou minimizar uma falha potencial; é capaz de trabalhar de forma independente quando as condições requerem solução mais rápida do que nós seremos humanos podemos proporcionar, além de trabalhar de forma cooperativa compatibilizando os objetivos das empresas, consumidores e agências reguladoras.

Uma rede deste tipo deve ser: "eficiente", sendo capaz de atender a demanda crescente dos consumidores sem a adição de infraestrutura; "maleável", aceitando energia de qualquer fonte de combustível incluindo a energia solar e o vento tão facilmente e de forma tão transparente como o carvão e o gás natural; capaz de integrar as melhores idéias e tecnologias, podemos citar como exemplo, as tecnologias de armazenamento de energia que já foram aprovadas pelo mercado e estão prontas para fazer parte dos sistemas. Uma concepção deste tipo deve ser "motivadora", permitindo a comunicação em tempo real entre o consumidor e a empresa fornecedora de energia de forma que o consumidor possa adaptar seu consumo de energia baseado nas suas preferências individuais, como preço da energia e as preocupações ambientais.
Os novos conceitos de energia devem ser "oportunos", mas não oportunistas, criando permanentemente novas possibilidades e mercados através de sua habilidade em capitalizar na inovação do tipo "conecta e utiliza", tanto para fontes de energia quanto para as cargas elétricas, onde e quando apropriado. A inteligência deve ser "focada na qualidade", capaz de entregar a qualidade de energia necessária, livre de afundamentos, perturbações súbitas e interrupções, para fornecer energia à nossa crescente economia digital e aos centros de armazenamento de dados, computadores e toda eletrônica necessária para fazer tudo isso funcionar.

Os sistemas de energia devem ser flexíveis e resistentes aos defeitos e aos desastres naturais de forma crescente na medida em que se torna mais descentralizado e reforçado com protocolos de segurança de redes inteligentes. Nos novos objetivos da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica devem estar incluídas a diminuição do avanço da modificação climática global e a oferta de novas opções na direção de uma significativa melhora ambiental.

A Infraestrutura Avançada de Medição (IAM) é uma abordagem para a integração de consumidores baseada no desenvolvimento de padrões abertos. Ele fornece ao consumidor a possibilidade de usar a eletricidade de modo mais eficiente e permite às concessionárias a habilidade de detectar problemas nos seus sistemas e de operá-los mais eficientemente. A IAM torna possível co conceito de eficiência amigável para o consumidor, tais como os "preços para os equipamentos", funcionando de forma que se assume que a energia tem um custo que varia próximo do tempo real - um imperativo em Redes Inteligentes - sinais de custo são tansmitidos para controladores residenciais "inteligentes" ou para dispositivos de uso final nos consumidores tais como os termostatos, lavadoras/secadoras e refrigeradores - os maiores usuários de energia nas residências. Os dispositivos, por sua vez, processam a informação baseados no que aprenderam dos desejos dos consumidores e os energisam de acordo. A casa ou escritório responde aos ocupantes, ao invés do inverso. Porque esta iteração ocorre principalmente "nos bastidores", com mínima intervenção humana, há uma dramática economia de energia que seria consumida se fosse de outra forma. Este tipo de programa já foi tentado no passado, mas sem as ferramentas de Redes Inteligentes tais como as tecnologias de permissão, interoperação baseada em padrões, e comunicação de baixo custo e eletrônica, o problema é que a rede não possuia nada de potencial tecnológico que existe atualmente.

A próxima geração de técnicas de visualização está a caminho. Deve ser dedicada uma nota especial ao projeto VERDE (Visualizing Energy Resources Dynamically on Earth), que é um projeto em desenvolvimento para o departamento de energia dos Estados Unidos no Oak Ridge National Laboratory e fornecerá o conhecimento da rede em sua totalidade integrando dados de sensores em tempo real, informações meteorológicas e modelos de rede com informações geográficas. Potencialmente a ferramenta será capaz de explorar o estado da rede espalhada por todo o país e passar em segundos a explorar detalhes específicos em um ponto da rede de distribuição próximo a um consumidor. Ela fornecerá informação rápida sobre apagões e a qualidade de energia bem como a percepção sobre a operação do sistema para as empresas de eletricidade. Com uma plataforma montada sobre os programas de visualização da geografia terrestre na Internet, ela também poderá se beneficiar do conteúdo gerado pela comunidade de usuários do sistema elétrico.

Em vista do que se planeja para a nova geração de equipamentos que comporão as redes de energia elétrica no futuro, percebe-se que muito será exigido do novo profissional de Engenharia em termos de preparo  e interdisciplinaridade para o pleno funcionamento destes sofisticados sistemas. Não só as redes serã inteligentes, mas os novos profissionais terão que estar muito bem preparados.

Prof. José R. Camacho, PhD
UFU - Faculdade de Enegenharia Elétrica
Sistemas de Energia Elétrica
e.mail: jrcamacho@ieee.org

domingo, 29 de agosto de 2010

A avaliação das escolas.

Escolas no Brasil se dividem em públicas e privadas, em todos os níveis, desde o primeiro e segundo graus, passando pelo ensino universitário e atingindo a pós-graduação. No segundo grau, já há pelo menos trinta e cinco anos, domina a iniciativa privada. No ensino superior, tentativas de privatização não faltam, tanto no ensino de graduação como no de pós-graduação.

Um tremendo contrassenso, as escolas de primeiro e segundo graus, com professores mais satisfeitos e seus estudantes mais bem preparados dominam os exames de ingresso superior. Raras e bem vindas exceções surgem dentro do ensino superior público, o estudante esforçado e dedicado da escola de pública de segundo grau que contrariando as adversidades tem a ousadia de querer fazer parte da elite pensante do país.

Costuma-se avaliar as pessoas e instituições de ensino umas com as outras. Ora, essa não é uma forma justa de avaliação, é preciso comparar a escola com ela mesma. É preciso ter em mãos os recursos que esta escola tem à sua disposição e o que foi feito com esses recursos em prol de seus estudantes, esta é a forma justa de avaliar.

É preciso inventariar os recursos materiais da escola e os recursos humanos (os pais dos alunos, os corpos discente, docente e de servidores) e o quanto é investido no preparo dos estudantes para comparar a escola com ela mesma. É natural que uma escola que tenha um valor muito menor desses recursos vá ter um desempenho menor em sua avaliação final. Mas será que ambas não tem índices de desempenho semelhantes?

Resumindo, qual foi o preparo que este estudante tinha quando aqui chegou? Faça amostragem de seu progresso a cada ano. Compare agora com o seu conhecimento ao se candidatar para ingresso no ensino superior. Quanto foi gasto nesta escola para o preparo deste estudante? Esta é a forma mais correta, comparar a escola com ela mesma. Que seja incluído no índice de desempenho aspectos que mostrem também os recursos despendidos em seus estudantes e o resultado final.

Talvez tenhamos uma surpresa e finalmente descobriremos que não é preciso gastar muito para preparar bem nossos jovens. Afinal nossos pais viveram em uma época de nenhuma tecnologia, onde o suprassumo da tecnologia era o sonho de ter um rádio à válvula para escutar o “Repórter Esso”. E minha mãe, já no Século XXI, somente com o primeiro grau escrevia excelentes cartas e não fazia feio nas contas do supermercado.

É preciso também mecanismos para detectar e ajudar os mais necessitados, pois estes se não forem socorridos serão relegados ao ostracismo de serem sempre os piores. Junto com os mecanismos de avaliação é preciso haver mecanismos de correção para que aquelas escolas que não tiverem usando bem seus recursos, sejam elas públicas ou privadas, possam corrigir a trajetória e voltar a ter índices compatíveis com os investimentos feitos. Mas para isso precisamos eliminar a cultura da punição e nos voltarmos para a cultura da premiação.

Os professores precisam estar preparados para usar novas tecnologias, e que tenham orgulho da carreira de magistério. Pergunte ao seu filho se ele quer ser professor. Hoje, não é possível ensinar se o professor não tiver acesso à internet, jornais, revistas e bons livros. O poder aquisitivo é muito importante nesse aspecto. Da forma como encaramos a educação é impossível querer ter os profissionais preparados que necessitaremos no futuro. E não digam que nós professores não avisamos.

Publicado na Coluna Opinião do Jornal Correio de Uberlândia em 07/10/2010.

domingo, 15 de agosto de 2010

Saudade de JK?

Faltavam cerca de seis meses para a eleição, em abril de 1955 o ex-governador mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira fazia seu primeiro comício na cidade de Jataí- Goiás na carroceria de um caminhão. Juscelino então abrindo seu discurso às perguntas do povo pediu que o inquirissem sobre o que quisessem, eis que foi interpelado então pelo Sr. Antonio Soares Neto (Toniquinho) que perguntou a ele se iria cumprir a Constituição Federal. O então candidato Kubtischek disse a ele que se eleito teria que jurar a obediência às leis. Foi então que Toniquinho pediu a ele que em cumprimento da Constituição construísse e transferisse a nova Capital Federal para o centro do Brasil, no quadrilátero que então aparecia nos mapas do Brasil como “Nova Capital Federal”, pois lá estava escrito há muito tempo e que nenhum presidente tinha dado a mínima para a sua execução. Juscelino concordou e fez a promessa.

Estava dada a largada para o que era visto pelo mundo na época como, “Brasil constrói capital no meio do nada”. Um país subdesenvolvido, sem o domínio da mais avançada tecnologia existente na época tinha a ousadia de construir uma moderníssima capital que nas maquetes tinha mais a aparência de um monumento com ruas e avenidas. Juscelino não foi um presidente como outro qualquer, porque todos desejam ser ele. Kubitschek teve em seu governo todos os defeitos dos governos da época, mas teve uma virtude única que o faz ser lembrado sempre, montou um “plano de metas de governo” e o seguiu à risca.

Talvez seja isso que falta aos nossos candidatos, ter a coragem de montar um plano de metas, e se eleito persegui-lo com unhas e dentes como fez Juscelino. Será que um plano hoje, seria tão difícil de ser cumprido como o foi para Kubitschek de Oliveira? Eu não acredito. O país hoje tem uma moeda estável, é uma democracia que está caminhando, tem indicadores econômicos saudáveis. Já o país em 1955 vinha de uma ditadura passando aos trancos e barrancos para uma Democracia claudicante, tinha indicadores econômicos assustadores, e que conseguiu se sustentar somente até 1964. Diziam os adversários que para não admirar Kubitschek e ser realmente seu opositor era preciso mantê-lo a quilômetros de distância. O homem que comandou a construção de Brasília tinha um carisma inigualável, talvez seja esse o carisma que os candidatos de hoje procuram.

Juscelino se fez ao longo da experiência de exímio articulador político, como prefeito de Belo Horizonte, governador de Minas Gerais, Presidente da República e Senador, quando foi calado para sempre pelo regime militar. Não foi criado artificialmente por candidato ou partido político, era um candidato que tinha carisma e experiência para fazer o que propôs. Meta é o que não está faltando no Brasil de hoje, que tal uma revolução no transporte ferroviário eletrificado de carga e na modernização de nossos portos e aeroportos? Será que não é possível criar uma meta estratégica descentralizada através dos estados para que as nossas rodovias não fiquem tão esburacadas em tão pouco tempo? E a meta nacional para a eliminação do gargalo logístico em que nos metemos ao priorizar transporte de cargas por rodovias?

Outra sugestão seria um plano nacional para priorizar o transporte de massa de alta qualidade, metrôs, metrôs de superfície e os chamados sistemas metro bus, do qual somos pioneiros e os maiores especialistas no mundo. Metas não faltam, o que falta é coragem e determinação para executá-las.

Prof. José Roberto Camacho
Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Engenharia Elétrica
e.mail: jrcamacho@ufu.br

Publicado na coluna "Opinião" do Correio de Uberlândia em 19/08/2010.

domingo, 8 de agosto de 2010

Caminhos da Senhora da Abadia.

Uma das localidades mais famosas pelas romarias no Estado de Minas Gerais é a de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, antigo centro do garimpo de diamantes. O Santuário da Virgem do Bouro atrai todos os anos no dia 15 de agosto um grande número de devotos e a procissão famosa pelo aspecto pictórico das promessas. A festa de Nossa Senhora da Abadia completa este ano o seu 140o (centésimo quadragésimo) aniversário, talvez seja hora de pensar que esta peregrinação ao templo em Romaria mereça uma maior atenção das Secretarias de Turismo das cidades da região. Esta festa já atingiu sua maioridade, pois milhares de pessoas para lá se dirigem no mês de Agosto, mais precisamente, a primeira e segunda semana do mês, muitas famílias se preparam para cumprir uma peregrinação religiosa que já se tornou uma atividade obrigatória em nossa região. A caminhada a pé até a cidade de Romaria para aos pés de Nossa Senhora da Abadia agradecer as graças alcançadas ao longo do ano. Partem peregrinos a pé das cidades de Uberaba (127 kms), Uberlândia (89 kms), Araguari(92 kms), Patos de Minas(145 kms) para caminhadas que duram até dois dias e duas noites.

Caminham os peregrinos dia e noite pelas margens das rodovias, não é muito difícil ver alguns deles parando para descansar e dormindo no acostamento das estradas. Ficam estas pessoas sujeitas a todo tipo de risco uma vez que pelas rodovias federais trafegam veículos pesados carregando todo tipo de carga, algumas de alta periculosidade. O perigo, portanto ronda esses fiéis de Nossa Senhora, e a tragédia com vítimas é uma possibilidade constante que assombra estes caminhantes. Uma vez que a peregrinação à Romaria é uma atividade popular, o poder público das cidades da região deve começar a pensar em viabilizar trilhas de peregrinação pelas estradas rurais e longe das rodovias para que os caminhantes se sintam mais protegidos.

Não é chegada a hora das Secretarias de Turismo das cidades da região se reunirem e traçarem trilhas sinalizadas pelas estradas rurais? Estas trilhas teriam pontos de parada para descanso de tantos em tantos quilômetros e quiosques com água e uma palavra de conforto para os peregrinos que buscam fazer essa penitência. Fazendo isso nossas cidades estarão criando infraestrutura para o turismo religioso na região, como são os Caminhos de Santiago e de Fátima na Espanha e Portugal e o Caminho de Lourdes na França. Para atingir esses centros de peregrinação partem caminhos sinalizados de vários pontos da Europa, que nunca coincidem com estradas movimentadas, onde os peregrinos sempre estão longe do grande movimento de veículos.

Talvez com esta mensagem, o poder público e os religiosos procurem sentar para conversar e transformar a Catedral de Nossa Senhora da Abadia em Romaria o epicentro de uma série de caminhos devidamente sinalizados e com infraestrutura partindo das mais diversas cidades no que poderíamos chamar de “Os Caminhos de Nossa Senhora da Abadia”, cortando a beleza de nosso serrado, descortinando as veredas do interior do Brasil, além da possibilidade de se admirar durante a meditação de uma longa caminhada um lindo nascer ou por do sol no serrado Brasileiro. Transformando esta festa religiosa em mais uma oportunidade para uma região tão carente no aspecto turístico.

Prof. José Roberto Camacho
Universidade Federal de Uberlândia
Engenharia Elétrica

Publicado na coluna Opinião
Correio de Uberlândia
12 de Agosto de 2010

sábado, 10 de julho de 2010

Sistemas de Energia Elétrica - Novos desafios.

Os constantes avanços tecnológicos em todos os campos do conhecimento humano estão chegando ao nosso dia a dia cada vez com uma maior rapidez. Os setores que evoluem mais rapidamente são a eletrônica, os computadores e sistemas a eles associados.
O Setor de Energia Elétrica por suas características de alto custo e retorno lento do investimento é cada vez mais pressionado pela adoção rápida de novas tecnologias. Estas novas tecnologias estão criando o que chamamos de Redes Elétricas Inteligentes e Sistemas de Armazenamento de Energia.
Este grupo de ramos de atividade nunca exigiu tanto dos profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, pois exigem uma fantástica dose de interdisciplinaridade, além de recursos humanos cada vez mais preparados nessas áreas. Enumerá-las aqui e não mencionar uma só área seria cometer uma falha imperdoável.
As áreas dentro dos sistemas de Energia Elétrica que sofrerão alterações substanciais e exigirão profissionais muito bem preparados e capacitados em futuro não muito distante são as enumeradas a seguir: a simulação estática e dinâmica de redes, as tecnologias de controle e monitoramento de redes, nova geração de sistemas de operação integrados (SCADA, DMS, NIS MDMS, OMS, PMU, etc...), novas estruturas de redes e as chamadas super-redes, segurança e redundância na transmissão de energia elétrica, componentes para novas tecnologias de controle de rede – FACTS, HVDC, etc..., componentes controláveis para sistemas elétricos de potência, materiais isolantes de melhor qualidade, tecnologia de alta tensão, redes de distribuição inteligentes, tanto a urbana quanto a rural.
Novas técnicas no gerenciamento de ativos da empresa, novos sensores e métodos de monitoramento de redes elétricas, métodos modernos de diagnóstico em tempo real para componentes de sistemas de potência, métodos rápidos para detecção de falhas, a conexão da geração de energia renovável (eólica, solar, pequenas centrais hidráulicas, maremotriz, etc...) a custo competitivo.
Será necessário o desenvolvimento de interfaces de rede para os mais diversos tipos de geração renovável, estudo de novos paradigmas em projetos de subestação e equipamentos, métodos de previsão de curto prazo para fontes de potência variável, armazenamento de curto e médio prazo para alívios de transitórios na escala de milissegundos a segundos e de segundos a minutos respectivamente. Deve ser também considerado o efeito migratório da indústria para a produção independente e autoprodução de energia elétrica e seus impactos nos novos paradigmas quando se considera o incremento na inteligência dos sistemas de energia elétrica.
A existência de veículos híbridos será ao mesmo tempo um recurso e uma carga extra para o sistema, impondo novos desafios, a interação armazenamento-transmissão é muito importante em redes inteligentes, além da existência de supercapacitores e bancos de baterias ligados aos subsistemas de armazenamento de curto e médio prazo.
Outros novos aspectos são os padrões de comunicação para a rede, uma eficiente (ICT) tecnologia de comunicação e informação para melhoria da qualidade de energia, os sistemas inteligentes de proteção e controle, a compatibilidade eletromagnética (EMC), pois sistemas de comunicação e alta energia trabalharão muito próximos.
Pesquisas sobre possibilidades de ilhamento em sistemas interligados, subestações e componentes inteligentes para sistemas de potência, o comércio internacional de energia, mercados diários de energia, novos métodos de medição automática e de armazenamento de dados em energia elétrica, impacto da flutuação do preço de energia.
Além disso, deve ser pensado o tratamento dos gargalos na rede de energia e seus efeitos sobre a segurança na operação do sistema, tarifas eficientes para a rede, a determinação de preço de serviços auxiliares, a introversão de aspectos externos no mercado de eletricidade, impacto do consumidor no mercado, o custo do desequilíbrio em redes inteligentes e o comportamento do consumidor perante a automatização dos sistemas.
Todos esses aspectos fazem com que aumente a responsabilidade sobre as empresas e profissionais da área de energia no cumprimento dos desafios que se avizinham em futuro não tão distante.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O preço que ninguém vê.

Os revendedores de veículos prevêem um crescimento para o próximo ano de mais de 15% na venda de veículos novos. Esta afirmativa nos leva a uma reflexão sobre o custo destes veículos que ninguém vê na hora da compra. Vamos, portanto fazer um exercício sobre o custo mensal de um veículo além do preço do mesmo ao longo de um ano. Vamos tomar por base um carro popular de aproximadamente R$ 30.000, 00 e que a metade desse valor foi financiada. As primeiras despesas antes de se pisar na rua são o IPVA de 4% sobre o valor do veiculo mais seguro obrigatório e taxa de licenciamento, um custo de aproximadamente R$ 1.350,00.

Supondo-se que o veiculo vá rodar pouco, em média 1200 kms por mês, o gasto aproximado com combustível para rodar 14.400 kms em um ano com um consumo médio de 12 km/l, com combustível a preço médio entre álcool e gasolina de R$ 2,50 o litro, seria de R$ 2.500,00.

Some-se a esta despesa duas trocas de óleo ao ano, em torno de R$ 200,00 e uma revisão de 10.000 kms em torno de R$ 300,00, e mais a depreciação do veiculo no primeiro ano. Não há consenso entre os especialistas sobre este assunto, os valores giram em torno de 20 a 30%. Vamos supor o valor médio de 25%. A soma dos três últimos índices perfaz o assustador total de R$ 8.000,00.

Levando-se em conta que 50% do veiculo foi financiado para ser pago em 60 meses e supondo-se uma taxa de administração de 5% para os custos da financeira o montante financiado se eleva para R$ 16.250,00, supondo-se ainda uma taxa de juro de 0,934% ao mês, e um pagamento mensal de R$ 355,00. O pagamento do financiamento ao final de 5 anos será de R$ 21.300,00. Um acréscimo anual nos custos de R$ 1.010,00.

Computando as 4 parcelas finais anteriores, o custo no primeiro ano é de R$ 12.860,00, um custo mensal extra de R$ 1071,67 além do pagamento mensal do financiamento do veículo de R$ 355,00. Esta conta poucas pessoas fazem ao comprar um carro, este custo mais o pagamento mensal do financiamento pode representar um rombo nas contas do comprador e levá-lo à inadimplência e prejuízos ainda maiores.

Outro aspecto importante e que não vamos incluir neste exercício numérico é o custo dos impostos, pois um carro popular com o preço dado aqui paga em média 30% de impostos quando pisa na rua, o valor deste carro é então R$ 21.000,00 para o fabricante, que o e torna R$ 9.000,00 mais caro devido aos impostos.

Não é sem razão que economistas escrupulosos permeiam a nossa mídia falada, escrita e televisada recomendando a consumidores incautos como eu, as melhores opções para a compra. Sem dúvida que os encargos fiscais sobre os veículos, o congestionamento nas grandes cidades, o preço dos combustíveis e a baixa qualidade do transporte público serão um estimulo ou não para a compra de novos veículos.

Agora se com todo este custo embutido faz-se uma previsão de crescimento nas vendas de 15% para os veículos novos em 2010, imagine como cresceria a nossa indústria, se os custos não fossem tão grandes para o bolso dos consumidores. Agora você consumidor, que está pensando em comprar um veiculo ou qualquer bem durável, tome muito cuidado com a cilada dos números, faça as contas e veja se não é melhor poupar antes e comprar depois.

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia em 15/02/2010.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Aeroporto de Uberlândia.

O nosso aeroporto hoje apresenta índices estatísticos que impressionam. Serve a uma cidade que tem uma população estimada em 650 mil habitantes. Consultando os dados estatísticos do INFRAERO observa-se que o mesmo apresentou um movimento operacional em 2008 de mais de 20 mil aeronaves e um movimento de mais de 500 mil passageiros. Nosso aeroporto está instalado num prédio de passageiros com somente 35 x 75 metros, e possui somente uma esteira para desembarque. O que torna caótico o desembarque simultâneo de duas aeronaves de grande porte.
Deve-se ainda levar em conta que o nosso aeroporto não conta com o ILS (Instrument Landing System) para ajudar nos pousos sob condições de baixa visibilidade, teto baixo, neblina e sob condições meteorológicas adversas. O que muitas vezes gera transtornos para passageiros e companhias aéreas. Os aeroportos mais próximos são o de Uberaba a 110 kms, o Aeroporto de Ribeirão Preto a 280 kms. Dois aeroportos cujas instalações também deixam muito a desejar, levando-se em conta a importância econômica da região. Aeroportos melhores são o de Goiânia e Brasília que estão a aproximadamente 400 kms e Belo Horizonte a mais de 600 kms.
Levando-se em conta estes números e o acanhado edifício em que está instalado o Aeroporto Ten. Cel. Aviador Cezar Bombonato, que apesar de ter sido objeto de uma reforma há pouco tempo atrás ainda continua muito pequeno. Nossas autoridades precisam levar esses números para os órgãos de planejamento aeroviário brasileiro e pedir que comparem as facilidades oferecidas pelo nosso aeroporto e por outro Aeroporto de mesmo porte como o Lauro Carneiro de Loyola em Joinville, por exemplo.
Aquela cidade possui uma população de mais de 500 mil habitantes, seu aeroporto recebeu em 2008 mais de 6 mil aeronaves com um movimento de mais de 700 mil passageiros. Observa-se que ambas as cidades são muito semelhantes, mas ao se comparar as instalações de ambos os aeroportos, quanta diferença. O aeroporto daquela cidade possui instalações modernas construídas em 2004, possui um edifício de passageiros de dois pavimentos com 4 mil metros quadrados que foi entregue há somente 5 anos, e que conta ainda com ponte móvel de embarque e desembarque. Este aeroporto dista 163 kms do Aeroporto Internacional de Florianópolis, 75 kms do Aeroporto Internacional Ministro Victor Konder em Navegantes e 130 kms do Aeroporto Internacional Afonso Pena em Curitiba.
Na questão aeroportuária percebe-se um total despreparo para o futuro que se avizinha, teremos uma Copa do Mundo em mais 4 anos e uma Olimpíada em mais 6 anos, e a questão que fica: Estaria Uberlândia inserida nos planos de melhoria do transporte aeroviário da próxima década no Brasil? Que planos são esses?
É chegada a hora de Uberlândia reivindicar, a partir de 2010, uma melhoria substancial em nosso aeroporto, para que tenhamos instalações que sejam condizentes com o tamanho da cidade e o progresso da região. Seguindo essa linha de raciocínio, observando outras cidades como Londrina, PR, Caxias do Sul, RS, e seus aeroportos, fica difícil descobrir quais são os critérios técnicos utilizados pelo INFRAERO para definir melhorias em aeroportos.

Publicado no Jornal "Correio de Uberlândia" na sexta-feira, 15/01/2010.

sábado, 2 de janeiro de 2010

E se Lula fosse ferroviário?

Esta é uma reflexão sobre o transporte de carga no Brasil. Estaria Lula orgulhoso do que o Brasil tem feito com o transporte de carga em nosso país se ao invés de metalúrgico ele fosse um ferroviário? Creio que não há motivo para os ferroviários e ex-ferroviários elogiarem este governo e os governos em passado próximo e distante. Nossas ferrovias agonizam, enferruja a nossa história em pátios ferroviários pelo Brasil, basta fazer uma visita às importantes cidades que no passado viviam do transbordo de cargas e passageiros em nossas outrora movimentadas ferrovias.
    As ferrovias brasileiras começaram a surgir no Brasil com Dom Pedro II em 1854 com sua Estrada de Ferro Leopoldina, elas possuem hoje 29.798 de linhas trafegáveis, dos quais 10.000 km foram construídos pelo próprio imperador, uma extensão pífia para um país de dimensões continentais como o nosso, boa parte da malha ferroviária concentra-se em três estados: São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Apesar de um custo fixo de implantação e manutenção elevado, o transporte ferroviário apresenta uma grande eficiência energética e baixo impacto ambiental, principalmente as ferrovias eletrificadas. Mesmo em processo de continuo sucateamento desde a era Getúlio Vargas, no Brasil o transporte sobre trilhos representa aproximadamente 19,46% da matriz de cargas e 1,73% da matriz de passageiros, incluindo transporte por metrô.
    O Brasil a partir da década de 60 do século passado concentrou seus esforços na construção de uma malha rodoviária mais ágil e eficiente, a questão é que as rodovias encarecem o transporte de carga, principalmente para grandes volumes e grandes distâncias. Sem mencionar o fato que faltam bons trens de passageiros, que liguem as maiores cidades entre si, para que possamos explorar com linhas de turismo em sua total plenitude as nossas belezas naturais. Imagine o potencial turístico de uma linha ferroviária de passageiros entre Aracaju e Fortaleza pelo litoral.
    Se comparada com a malha rodoviária que hoje possui cerca de 155.000 km, percebe-se a diferença gritante em extensão entre ambas. Perguntas que não querem calar são: Porque o Brasil se esqueceu das ferrovias? Elas não são lucrativas? Um programa de estimulo às ferrovias hoje, com a mesma visão estratégica que Juscelino Kubitschek de Oliveira teve para com a industria automobilística na década de 60, seria de uma importância capital para um país tão grande que não quer mais dormir em berço esplêndido.
    Estamos na era dos trens de alta velocidade, na Europa e na Ásia trens trafegam a mais de 400 kms por hora, sem mencionar que as tecnologias atuais permitem que os trens de levitação magnética se elevem sobre os trilhos e atinjam velocidades que ultrapassam os inimagináveis 700 kms/h. Desta forma seria possível percorrer a distancia entre São Paulo e o Rio de Janeiro em menos de uma hora e meia de viagem. O que permitiria mais uma opção de transporte entre estas duas cidades que já possuem o sistema rodoviário e aeroviário por demais congestionados. 
     O Brasil um gigante rodoviário, precisa se transformar também em gigante ferroviário, com uma malha que interligue as diversas regiões do país, propiciando maior facilidade ao transporte intermodal com sua total integração ao sistema de transporte do país. Esta é a hora de se cobrar da nossa classe política um grande plano ferroviário para o Brasil.

Publicado no Jornal "Gazeta do Triângulo" de Araguari na quinta-feira, 14/01/2010.