domingo, 29 de dezembro de 2013

Pedágio, quanto custa?


O governo anuncia a privatização das rodovias que nos cercam. Nem uma palavra sobre a diminuição de impostos que incidem sobre os veículos, combustíveis, lubrificantes, peças e de circulação dos veículos. Afinal o nosso país é o campeão da poli tributação sobre um mesmo bem. O incrível é que os consumidores aceitam pagar pedágio numa boa, todos são unanimes em afirmar que o pedágio não é tão ruim se as rodovias ficarem bem conservadas.
     Os consumidores se esquecem de que o valor pago para transitar nas rodovias incidirá sobre todos os bens que trafegam por ela, e sobre o frete para o transporte desses bens. Ora bolas, o valor do pedágio acabará indo parar no valor de praticamente tudo o que compramos no dia a dia. Porque no Brasil, praticamente tudo é transportado por via rodoviária dentro de caminhões. O aumento de pedágios no país, serão aproximadamente 17 para ir do Rio de Janeiro a Brasília via BR-040, fará com que os preços dos produtos transportados subam.  
     Alguém imagina que o valor do pedágio não terá influência sobre o arroz e o feijão que consumimos? Portanto não pagaremos mais caro só para transitar na rodovia, tudo ficará mais caro, pois tudo transita por nossas rodovias. Até grãos de soja “in natura” para exportação tem o seu preço influenciado pelos pedágios que os caminhões vão encontrar no caminho. Iremos pagar esse pedágio várias vezes e ninguém se apercebe disso.
      Estaria eu tendo visões ou isso é verdadeiro? Aí os enormes caminhões vão pelas estradas do país escolhendo caminhos estreitos e sinuosos para se livrarem dos pedágios e baratearem o custo do transporte. Esses veículos enormes provocam acidentes em estradas estreitas e mais uma vez pagamos a conta dos mortos, feridos e incapacitados nos acidentes. Os pedágios são muito mais caros do que o valor pago para uso das rodovias. Pois o custo de utilização das rodovias irá influenciar em tudo aquilo que usamos no dia a dia.
     Será que alguém já fez a conta do efeito multiplicador de tributação dos pedágios que proliferam em nossas rodovias pela incapacidade do estado em mantê-las? A manutenção das estradas pela iniciativa privada é um imposto que tem um efeito multiplicador devastador sobre a nossa economia. E depois dizem ao pagar pedágios pagamos somente pelo uso da estrada. Negativo este sobre preço irá parar em tudo que consumimos, é muito simplista analisar que pagamos simplesmente a conta pelo uso de um bem que deveria ser público.
     Este tipo de tributação tem um efeito avassalador sobre o bolso do brasileiro, e se o povo perde alguém está ganhando, e muito. Vocês já viram alguma concessionária de rodovia devolver a concessão ao governo federal porque estava tendo prejuízo? Imagine os ganhos de uma concessão da BR-040 dentro do Estado de Minas Gerais com onze praças de pedágio a R$ 3,60 cada com um tráfego de 7500 veículos por dia nesse trecho. Uma conta grosseira dá aproximadamente um faturamento de R$ 9 milhões por mês.
     Mas de quanto será o impacto da disseminação desta tributação sobre tudo o que consumimos? Qual será o verdadeiro custo disso? A maioria dos cidadãos brasileiros não entende porque o custo Brasil é tão alto. É porque quando se produz algo todo mundo quer tirar uma lasquinha da produção. É o governo e seus impostos, é a poli tributação embutida em tudo o que é privatizado e que deveria ser fornecido a partir dos impostos que já pagamos. Será que esses impostos governamentais que eram para a manutenção das rodovias vão desaparecer? Será?


domingo, 15 de dezembro de 2013

Transporte limpo.

     Esta semana me filiei a um grupo mundial de estudos o “IEEE Clean Transportation são pessoas que dividem comigo a mesma esperança, que enfim as grandes cidades do mundo optem por um transporte de massa limpo e sustentável. Em resumo, o transporte eletrificado sem emissão de poluentes. Tanto o transporte pesado para ampliar e diversificar as opções da malha de transportes, como para o transporte de passageiros para aliviar a poluição e sobrecarga do sistema que ainda na maioria das cidades utiliza ruidosos ônibus e caminhões movidos a óleo diesel.
      Vamos fazer umas contas, a cidade de Cuiabá, está implantando um sistema de VLT (veiculo leve sobre trilhos) com 22 kms de extensão a um custo de 1,4 bilhão de reais. O sistema terá 32 estações em duas linhas que se cruzam. Isso significa um custo aproximado de 64 milhões por km. Serão 40 composições de 44 metros cada, o equivalente a aproximadamente dois ônibus por viajem, com um intervalo de 3 minutos cada. O sistema será capaz de transportar até oito mil passageiros e cada estação ao ser integrada ao transporte por ônibus e carros de passeio na cidade deverá facilitar o deslocamento de pessoas entre os extremos da capital mato-grossense.
     Ao se observar os dados de tal empreendimento observa-se o alto custo de implantação do sistema. Mas é preciso considerar que é um sistema implantado para sempre, e que irá retirar das ruas milhares de veículos de passeio e ônibus. É um sistema não poluente, extremamente silencioso e que contribuirá para a qualidade de vida do cidadão comum. Este mesmo cidadão que saiu às ruas outro dia pedindo por retorno visível do imposto pago aos governos municipal, estadual e federal.
     É preciso que os planejadores públicos incluam o transporte limpo e silencioso nos planos de nossas grandes cidades para contribuirmos com a qualidade de vida. Melhor ainda, é necessário que estudos sejam feitos com antecedência para escolher o sistema que se adapte mais precisamente às condições de clima e relevo de nossas cidades.
     Antes que cheguemos ao ponto de colapso do sistema de transporte público por que hoje passam as grandes cidades em nosso país (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) é preciso que corredores de transporte limpo sejam criados ao longo de nossas cidades que crescem a índices espantosos. Uberlândia é o quarto munícipio mais populoso do interior do Brasil e, portanto precisa pensar grande em termos de deslocamento interno de seus cidadãos, ou então estaremos fadados às mesmas mazelas que o transporte público já apresenta em outras grandes cidades.
     Não podemos nos esquecer da estrutura já montada em termos de corredores de ônibus e estações de embarque e desembarque já existentes em Uberlândia, e que já pode ser utilizada como infraestrutura existente para o barateamento de implantação deste novo sistema. O que fará com que o custo de implantação diminua sensivelmente. Sem dúvida o custo de implantação é alto, mas precisamos pensar em parcerias entre munícipio, estado e governo federal para viabilizar uma obra desta dimensão.
     Os nossos representantes nessas instâncias precisam uniformizar o discurso e reivindicar um sistema de transporte modelo para nossa cidade. É preciso também utilizar o estoque de conhecimento existente em nossa região para que se faça um projeto bem elaborado que seja mais uma referencia em transporte limpo em todo o país.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 30/12/2013


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Poder

 
Escrever sobre tema tão complexo é algo delicado. Pois o poder significa ter domínio sobre as coisas ou pessoas, é ser capaz de decidir sobre que consequências essas decisões irão ter. Possuir essa capacidade é algo inebriante, é como estar sobre o efeito de drogas alucinógenas, pois neste mundo do poder quase sempre o que parece não é. Neste mundo se alguns têm poder e muitos não o têm, a sociedade passa a viver a serviço de poucos. Embora o discurso quase sempre seja de que a sociedade e a comunidade devem servir a todos na mesma proporção. Nossa sociedade infelizmente é dirigida pelo poder dos que têm a controlar os que não têm, uma batalha diária pela igualdade social que aparece quase sempre no discurso diário de todos, mas na prática é algo muito diferente.
 
Parecemos todos com aquele coelho que tem uma cenoura presa na sua cabeça a alguns centímetros de sua boca e que corre desesperadamente para alcançá-la. A cenoura é a verdadeira representante daqueles nossos sonhos que sempre insistem em dar quatro passos adiante quando caminhamos dois em sua direção. O poder de certa minoria que consegue tudo em detrimento da maioria é o que corrói a sociedade capitalista, a ambição sem medida e o desejo de poder de poucos discrimina aqueles que pouco ou quase nada tem. Ter ambição é algo saudável, pois ela nos faz progredir. Mas ser ambicioso ao ponto de ser desonesto e ignorar leis e regras é algo doente que merece muito cuidado e observação.
 
O poder corrompe, diz o ditado popular, mas talvez mais importante que ter poder é saber dosá-lo a ponto de o poderoso ter consciência do quanto seus atos afetam a vida de outras pessoas que às vezes nada tem a ver com suas decisões. O poder pode modificar vidas, destruir sonhos e aspirações; mas o poder nas mãos do sábio e cauteloso pode construir e produzir bens inimagináveis. Esta elucubração filosófica sempre nos remete ao poder de decidir dos políticos e legisladores. Portanto é muito importante que ao escolher nossos representantes tenhamos consciência e o cuidado de que não dar nosso aval a um psicopata que será hipnotizado pelo canto da sereia. Ter o poder é se cobrir de responsabilidade e representar com dignidade aqueles que te incumbiram de tal missão. Ter o poder é saber que junto com o bônus veem o ônus da missão que deverá ser bem desempenhada.
 
A ambição pelo poder costuma cegar o individuo e ele não consegue enxergar além do seu objetivo maior que é exercer o controle que sempre almejou. O individuo não tem tempo para pensar que quando tem o poder ele o tem delegado pela comunidade que representa, e a ela deve prestar contas de suas decisões. É muito comum que decisões sejam tomadas não em prol de toda comunidade, mas de um grupo de indivíduos próximos do poderoso e que pretensamente o ajudaram a chegar até o tão almejado posto.
 
Este é um erro primário geralmente praticado por quem tem pouca visão de futuro, porque mesmo que ele não tenha sido guindado ao posto de poder por toda a comunidade ele deveria desempenhar bem sua tarefa para convencer seus opositores de que estavam enganados e ele era a pessoa certa para o posto. Mas não é assim que funciona a mente dos poderosos, eles sempre querem se aproveitar do tempo que tem no poder para usufruir o máximo das benesses da posição que ocupam. E o poder não aceita críticas, nem que sejam construtivas, pois existe sempre o argumento que quem critica o faz simplesmente por ser opositor. Por isso o poder não é para qualquer um, mas sim para aqueles que têm o desprendimento e a sabedoria de entender sua transitoriedade.
 
 
Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Em 09/12/2013