terça-feira, 10 de julho de 2012

O culto ao Deus Mercado e o Ser Humano.

Ao ler um texto escrito por diretor de empresa ou acionista de uma grande corporação é comum encontrar várias referências ao Mercado, esse Deus que nos controla a todos. Adoradores do dinheiro multiplicam várias vezes seus ganhos enquanto milhões morrem no mundo por doença funcional ou por deterioração do meio ambiente. Não resta a menor dúvida que uma situação financeira saudável é importante, mas existe uma distância muito grande entre situação financeira saudável e a ganância desmedida demonstrada por certas corporações.

Esquecem-se as grandes corporações que elas não são feitas somente por bens materiais, dinheiro ou lucro. Mas mais do que isso, são habitadas por homens e mulheres que são os protagonistas de todas as ações. Não é possível esquecer que seres humanos também são seus clientes. Certa vez, assistindo à inauguração de um prédio dotado da mais alta tecnologia em uma universidade no exterior, o chefe do departamento, usando da palavra expressou o seu sentimento de agradecimento aos colegas e autoridades presentes por terem conseguido construir aquele maravilhoso edifício. Mas por outro lado manifestou o desejo de que ele pudesse ser preenchido por recursos humanos e por cérebros compatíveis com os novos recursos materiais.

A ganância pelo lucro desmedido leva grandes corporações e instituições a se desviarem dos seus objetivos sociais, e também do seu relacionamento com o cliente. Como é possível uma grande instituição quer seja governamental ou privada não possuir ou dar menos valor a um Departamento de Talentos Humanos e de relacionamento com as pessoas que são a razão de sua existência. Fala-se tanto no Deus Mercado que se esquecem do que ele realmente é composto. Ou seja, fazem parte dele pessoas que buscam o bem estar e respeito dentro de uma sociedade cada vez mais desumana e artificial. O importante não é o que é, mas o que parece ser.

Assistimos hoje o culto às finanças, no templo dedicado ao Deus Mercado, onde a medida é o que se tem, e não o que se é, onde se cultua a cobiça, onde a quantidade de ativos, o lucro e a usura são os maiores bens. Nesta religião o valor de cada um é medido pela capacidade de ter bens materiais e poder à custa do próximo. A legislação não é problema, pois esta pode ser modificada ao bel prazer de quem tem poder. A legislação pode ser manipulada, reescrita e violentada. O que importa é o Mercado, é preciso criar novas necessidades na população, construindo um ciclo de consumo que não tem fim e que passa a definir como progride a humanidade. Nesta religião não se tem nenhum escrúpulo, os crimes e as fraudes permeiam e passam a ser instrumentos de negócios que enlaçam grandes corporações, instituições governamentais e vai atingir de maneira desleal a parcela mais carente e fragilizada da população que paga impostos.

Os adoradores das finanças em larga escala esquecem-se das necessidades humanas e fazem pouco da virtude. Esta que está em decadência devido aos valores do Mercado, pois vida para eles só tem significado em proveito próprio. Para eles não existe algo maior como espírito comunitário, para eles a comunidade é para ser explorada, e de preferência com o mínimo esforço. O Deus verdadeiro que se condoa de nossas mazelas, só nos resta rezar a ele para ver se nos concede entre outros direitos a segurança comunitária, a segurança alimentar e saúde pública de qualidade.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Gazeta do Triângulo - 07, 08, 09/07/2012