Ao ler um texto escrito por diretor de empresa
ou acionista de uma grande corporação é comum encontrar várias referências ao
Mercado, esse Deus que nos controla a todos. Adoradores do dinheiro multiplicam
várias vezes seus ganhos enquanto milhões morrem no mundo por doença funcional ou
por deterioração do meio ambiente. Não resta a menor dúvida que uma situação
financeira saudável é importante, mas existe uma distância muito grande entre
situação financeira saudável e a ganância desmedida demonstrada por certas
corporações.
Esquecem-se as grandes corporações que elas não
são feitas somente por bens materiais, dinheiro ou lucro. Mas mais do que isso,
são habitadas por homens e mulheres que são os protagonistas de todas as ações.
Não é possível esquecer que seres humanos também são seus clientes. Certa vez,
assistindo à inauguração de um prédio dotado da mais alta tecnologia em uma
universidade no exterior, o chefe do departamento, usando da palavra expressou
o seu sentimento de agradecimento aos colegas e autoridades presentes por terem
conseguido construir aquele maravilhoso edifício. Mas por outro lado manifestou
o desejo de que ele pudesse ser preenchido por recursos humanos e por cérebros compatíveis
com os novos recursos materiais.
A
ganância pelo lucro desmedido leva grandes corporações e instituições a se
desviarem dos seus objetivos sociais, e também do seu relacionamento com o
cliente. Como é possível uma grande instituição quer seja governamental ou
privada não possuir ou dar menos valor a um Departamento de Talentos Humanos e
de relacionamento com as pessoas que são a razão de sua existência. Fala-se
tanto no Deus Mercado que se esquecem do que ele realmente é composto. Ou seja,
fazem parte dele pessoas que buscam o bem estar e respeito dentro de uma
sociedade cada vez mais desumana e artificial. O importante não é o que é, mas
o que parece ser.
Assistimos hoje o culto às finanças, no templo
dedicado ao Deus Mercado, onde a medida é o que se tem, e não o que se é, onde
se cultua a cobiça, onde a quantidade de ativos, o lucro e a usura são os
maiores bens. Nesta religião o valor de cada um é medido pela capacidade de ter
bens materiais e poder à custa do próximo. A legislação não é problema, pois
esta pode ser modificada ao bel prazer de quem tem poder. A legislação pode ser
manipulada, reescrita e violentada. O que importa é o Mercado, é preciso criar
novas necessidades na população, construindo um ciclo de consumo que não tem
fim e que passa a definir como progride a humanidade. Nesta religião não se tem
nenhum escrúpulo, os crimes e as fraudes permeiam e passam a ser instrumentos
de negócios que enlaçam grandes corporações, instituições governamentais e vai
atingir de maneira desleal a parcela mais carente e fragilizada da população
que paga impostos.
Os
adoradores das finanças em larga escala esquecem-se das necessidades humanas e
fazem pouco da virtude. Esta que está em decadência devido aos valores do
Mercado, pois vida para eles só tem significado em proveito próprio. Para eles
não existe algo maior como espírito comunitário, para eles a comunidade é para
ser explorada, e de preferência com o mínimo esforço. O Deus verdadeiro que se
condoa de nossas mazelas, só nos resta rezar a ele para ver se nos concede
entre outros direitos a segurança comunitária, a segurança alimentar e saúde pública
de qualidade.
Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Gazeta do Triângulo - 07, 08, 09/07/2012