quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Enem e o ensino superior.


No passado, tínhamos um sistema de avaliação para ingresso no ensino superior que era dito ser de péssima qualidade, o sistema era todo segmentado e os estudantes acabavam peregrinando pelo País fazendo provas e tentando entrar em universidades através de um sistema caro e de pouca praticidade. No sistema daquela época, cada universidade elaborava suas provas e avaliava os estudantes com provas diferentes e de acordo com as carreiras que haviam escolhido. A virtude do Enem é ser um sistema de avaliação unificado que permite ao estudante fazer uma única prova generalista e, se ele for bem preparado, poderá entrar nas melhores universidades do País no curso de sua escolha. Esta é a maior virtude deste novo sistema de avaliação, que ainda apresenta sérios problemas.

É preciso ter em mente que este processo de avaliação com uma prova generalista, mas, com pesos diferentes para as mais diversas carreiras, encaminha estudantes para cursos do ensino superior que apresentam culturas muito diferentes e é inconcebível se oferecer a mesma prova generalista, somente com pesos diferentes, para um estudante de Medicina e outro de Engenharia. Os conhecimentos básicos importantes para as mais diversas carreiras são muito distintos e o que acontece é que o estudante adentra a universidade com conhecimentos genéricos de pouca profundidade que estão aquém do que é necessário para que o estudante passe de forma suave e sem solavancos do ensino médio para o ensino superior.

Acaba chegando ao ensino superior um estudante de formação precária e com conhecimento pouco profundo para cada uma das carreiras universitárias. Este estudante está muito aquém do que espera dele o professor e a carreira universitária. Soma-se a isso um estudante que detesta ler porque não se formou nele uma cultura de leitura e interpretação de texto no ensino fundamental e médio. O estudante que detesta ler conhece pouco vocabulário e acaba escrevendo mal. Isto tudo originado fora da universidade. Para o ensino superior, fica a tarefa de transformar, num prazo de quatro, cinco ou seis anos, o estudante precário e mal avaliado no Enem em um profissional das Leis, da Engenharia ou da Medicina. Acaba sendo pouco, devido à distância entre o conhecimento do estudante ao terminar o ensino médio e o conhecimento que a universidade exigirá dele.

Este não é um problema de pequena monta, pois envolve todo o nosso sistema de ensino e avaliação. O que acontece hoje é resultado de uma politica educacional claudicante e de pouca objetividade que temos nos últimos anos em nosso País. Não quero, aqui, dizer que todas as escolas ensinam mal e preparam mal. Esta opinião é endereçada para média das escolas do nosso País, que ensina de acordo com a avaliação e da forma como se avalia nas instâncias superiores; e com uma avaliação generalista no Enem é pouco provável que tenhamos estudantes adentrando a universidade com conhecimento muito além de uma prova generalista. Se observarmos as escolas superiores, temos algumas de prestígio, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que não adotaram o Enem e continuam com o velho vestibular exatamente por isso. Precisam de um estudante que tenha sólidos conhecimentos das disciplinas básicas que interessam a eles, como Matemática, Física, Química, Redação, Inglês, etc.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 10/09/2015