segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A universidade e o mercado.

Como bem sabemos uma universidade completa vive sobre o tripé ensino, pesquisa e extensão. O ensino recebe mais ou menos estudantes dependendo da situação de mercado, se uma determinada profissão necessita de mais ou menos profissionais, e na medida em que a remuneração pelos serviços sobe ou desce, aumenta ou diminui o interesse por determinadas profissões. Isto pode ser observado com muita clareza dentro das universidades. A desvalorização de uma profissão em geral, pela piora na recompensa financeira, sempre atrai os menos qualificados para desempenhá-la.

Dentro deste tripé alguns aspectos podem ser discutidos alguns antagônicos e outros até perversos. O perverso da afirmação acima é que no momento que o mercado não necessita destes profissionais seu valor decresce e diminui também o interesse pela profissão e numero de cidadãos com esta formação cai drasticamente. Acontece que são passados pelo menos vinte anos para formar um bom profissional com curso superior, se a profissão não atrai interesse hoje, pode atrair amanhã, e haverá um vazio de profissionais qualificados para desempenhar a função.

Neste cenário e pela busca da eficiência e economia a universidade tende a relegar à obsolescência os cursos onde não há demanda por vagas, e o seu futuro passa a ser a extinção. Será este mesmo o caminho? Será que não existe profissão em que se busca desesperadamente por profissionais qualificados e estes continuam sendo mal remunerados e desvalorizados pelo mercado? Eu poderia citar aqui pelo menos meia dúzia de profissões em que acontece isso hoje em nosso país. Irão as universidades se curvar aos interesses imediatos do mercado e liquidar com os cursos que formam estes profissionais?

O mesmo acontece com a pesquisa e a extensão. Irá desaparecer a pesquisa sem patrocínio? Iremos todos trabalhar com vistas ao que nos pedem hoje, ou com a perspectiva do que acontecerá num horizonte de cinco, dez, e até quinze anos? É preciso um mapeamento das necessidades futuras para que possamos trabalhar com as modificações no preparo dos profissionais que treinamos hoje para estarem no ápice de suas carreiras em vinte e cinco anos.

Este mesmo raciocínio vale para toda formação profissional, não só para as universidades como para todas as carreiras técnicas de nível médio. É preciso adaptar as profissões para o futuro que se avizinha; um mundo em que a tecnologia estraçalha o contato entre pessoas, pois hoje existem mais e mais pessoas que trabalham sozinhas e em casa, é preciso que os novos profissionais estejam preparados para o empreendedorismo de ser uma empresa de empregado único.


Devido ao desprestígio de certas profissões certos cursos universitários são legados ao ostracismo, sobram vagas, e a baixa procura faz com que a busca pela eficiência entre em ação e acabe por desativá-los e eles desaparecem de nossas universidades. Com o ensino e o conhecimento sendo cada vez mais um produto a vendido como qualquer um daqueles itens de consumo em prateleira de supermercado, certas profissões tendem ao desaparecimento? Não seria mais correto mantê-las adaptando-as aos novos tempos?

A discussão está em aberto. Desde o que se fazer com as vagas ociosas, que por diversas razões sobram nas universidades públicas, até em que ritmo modernizar e abandonar as virtudes das práticas do passado. Muito ainda deve ser discutido por especialistas em educação para que o ritmo de modernização não ultrapasse os limites da ética e da valorização do ser humano.

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