quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Os Serviços Públicos e as PPPs.

Que surpresas reservam a todos nós as PPPs (Parcerias Público-Privadas) para o preço dos novos serviços em nosso país?  O governo sinaliza que a modernização dos aeroportos passa pelo interesse da iniciativa privada em ser sócia do governo nessa empreitada. Para que esse interesse se materialize é preciso que os gestores da coisa pública provem aos empresários que a taxa de retorno do capital investido para esses empreendimentos é atraente. Ora, atraente para eles, mas talvez nem tanto para nós que pagamos a conta em sua totalidade.


Circula na mídia do país que o governo brasileiro não fará reformas ou construirá novos aeroportos sem a parceria do empresariado. Neste cenário resta ao consumidor começar a rezar para que as taxas de embarque desses novos e velhos e reformados aeroportos não cresçam em demasia para viabilizar a famosa taxa de retorno do capital investido. Mais um pedágio a ser pago pelo consumidor para ter serviço de qualidade.

Parodiando um colega de profissão que esteve como professor visitante estrangeiro em nossa universidade, perguntei a ele ao fim de seu período em nossa instituição, qual era a impressão que levava de nós brasileiros após sua experiência de um ano aqui no Brasil. Ele me disse que em “marketing” somos nota dez, um povo alegre, cativante e muito musical. Mas quando se trata de trabalhar em equipe e conservar o que está feito somos um verdadeiro pesadelo. Como exemplo ele me citou o nosso patrimônio histórico, com o qual ele e a família ficaram maravilhados, principalmente os casarões e igrejas inspirados no período colonial brasileiro. Mas pesarosos com a falta de conservação, uma prova que temos pouco apreço pelo passado.

Ao visitar cidades como Recife e Olinda em Pernambuco e Ouro Preto, Mariana e Diamantina em Minas Gerais ele ficou entristecido com a falta de manutenção de todo nosso patrimônio herdado do período colonial. Ou seja, com pouca observação ele concluiu que somos ótimos para construir e péssimos para manter. Sob esta ótica e levando ao limite do infinito, chegamos à conclusão que o nosso país terceirizará todo o serviço de manutenção em nosso país, desde as rodovias até a conservação de prédios públicos, praças, parques e a manutenção da ordem pública. Manutenção da ordem pública que em grande parte já está nas mãos das empresas privadas de segurança. Aí vem aquela pergunta que não quer calar, seria o país capaz de viver sem esses serviços?

Após a terceirização dos aeroportos virá a da saúde, a da segurança, a das rodovias e sua manutenção que já estão sendo lentamente privatizadas junto com a modernização da malha rodoviária, sem falar nas escolas em todos os níveis e por aí vai. Será que estamos preparados para, além de pagar essa quantia escorchante de impostos, arcar também com as novas taxas cobradas pela privatização de tudo?

O interessante é que em certos países, muito mais antigos que o nosso, o estado assume para si o cuidado com o bem estar do cidadão, e honra os pesados impostos recebidos. Em nosso caso nem os pesados impostos é motivo para que sejam ofertados serviços públicos de qualidade, quaisquer que sejam eles.

Prof. José Roberto Camacho
Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Engenharia Elétrica
http://www.camacho.prof.ufu.br

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