domingo, 14 de agosto de 2011

O Brasil rumo à África.

A África sempre foi e sempre será um continente cheio de contrastes e mistérios. Da pobreza extrema, do imenso deserto do Saara, do apartheid que ainda existe, à riqueza das minas de diamantes na África do Sul e seus animais exuberantes nas savanas africanas. Um continente que raramente conhece a palavra paz. Todo esse contraste onde ainda os países são divididos tendo como base grupos étnicos, divisões tribais e crenças religiosas.

Como se não bastasse toda essa intranquilidade grande parte do continente africano é ainda assolado pela seca e pela fome. Não podemos nos virar de costas para as crianças esquálidas e para o choro das mães que somente esperam pela morte de seus filhos. Acontece que a fome e seca não são produtos da meteorologia, mas de uma conjunção perversa de política e de guerras.

Em certos países como a Somália (campo de Badbaado), a Etiópia (região do Ogaden) e no Quênia o povo esquálido se move pela terra seca de riacho em riacho e de poça d’água em poça d’água em guerra diária pela sobrevivência. Os campos de refugiados se multiplicam e crescem em ritmo alucinante.

O que será de ti África? Agora que os países da rica Europa e América do Norte não são mais tão ricos e em solidariedade monetária procuram afastar a alfanje da bancarrota financeira. Não será que estamos num momento propício para aprendermos a lição e procurarmos exercitar a solidariedade tecnológica e exportarmos o conhecimento para a busca de soluções para a fome, a seca, a política e as guerras em solo africano?

São campos de refugiados que chegam a ter mais de 400 mil pessoas e que só tem comparação com os campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial, pois a miséria é tanta que é o local onde famintos se reúnem na solidariedade a esperar pela morte. A mídia documenta que o silêncio nestes campos é aterrador, onde o choro de crianças é raro, o mais básico instinto infantil foi ali derrotado pela incapacidade humana de discernir o que é e o que não é importante.

Este continente de contrastes oferece oportunidades de levarmos a eles toda a tecnologia que hoje temos para a produção de alimentos. É preciso que organismos transnacionais criem condições de diálogo entre as nações para espantarmos de vez a morte pela fome e pela sede. Não é possível que assistamos impassíveis países inteiros serem dizimados, enquanto seres humanos constroem cidades turísticas de sonho e luxo como Dubai e Abhu Dabi, Luanda em Angola seja a cidade mais cara do mundo, onde tudo é escasso e é cotado a peso de ouro.

Mas felizmente grandes perfumes sempre surgem em pequenas quantidades e foi como uma agradável brisa fresca que a mídia escrita traz hoje uma manchete que sem dúvida se seguida como exemplo por outras nações poderá representar a esperança da África. Moçambique oferece ao Brasil a área de três estados de Sergipe (seis milhões de hectares) para o cultivo de soja, algodão e milho por 50 anos. Em troca os brasileiros pagam um imposto anual de R$ 21,00 por hectare. O governo de Moçambique procura os brasileiros devido a sua experiência no cerrado e quer que a nossa tecnologia repita na África a mesma revolução que aconteceu aqui no Brasil há 30 anos.

Espero que nossos agricultores, os governos e as agências internacionais saiam da letargia típica dos bem aquinhoados e como no exemplo citado criem condições para que acordos entre países possam ser estabelecidos e possamos exportar nosso conhecimento para quem passa fome e sede. Movidos pelo fato de estarmos preparados para bater recordes de produtividade em nosso país, que tal darmos o exemplo e oferecermos nossa solidariedade ao mundo?

Prof. José Roberto Camacho

Universidade Federal de Uberlândia

Faculdade de Engenharia Elétrica
Núcleo de Pesquisa e Extensão em Energias Alternativas
http://www.camacho.prof.ufu.br


Publicado no Jornal O Correio de Uberlândia em 19 de Agosto de 2011.

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