É madrugada de
sábado para domingo, enquanto todos descansam o fim de semana dos justos, mais
uma tragédia anunciada entrava para a história dos grandes desastres de nosso
país. Na boate Kiss em Santa Maria no Rio Grade do Sul, se reuniam em uma festa
de jovens universitários, mais de 900 pessoas, num local em que foi declarado
que só caberiam pouco mais de 400 pessoas.
Um dos membros
da banda Gurizada Fandangueira, que animava a balada, resolveu adicionar um
pouco de adrenalina àquele local escuro, apertado e isolado acusticamente com
materiais altamente inflamáveis, que produzem letais gases tóxicos ao se
queimarem. A brilhante ideia de um dos membros da banda fandangueira foi
acender sinalizadores e fazer deles elemento de acrobacia e pirotecnia para
animar a festa.
Fagulhas dos
sinalizadores atingiram os elementos de decoração e isolação acústica,
produzindo fogo que se espalhou rapidamente pelo local. Somem-se à tragédia, extintores
que não funcionam e pessoas sendo impedidas de deixar o local por seguranças que
formam uma barreira de brutamontes exigindo o pagamento das “comandas” de quem
saía às pressas. Muitos impedidos de sair tentaram se esconder nos banheiros.
Estes foram os
elementos do desastre que matou mais de duas centenas de jovens, e mandou outra
centena em estado crítico, para o hospital, a grande maioria deles
universitários. O Brasil ainda chora e todos nós choramos, porque poderiam ser
os nossos filhos. Uma sequencia imperdoável de erros provocou esse desastre de
monstruosas proporções. Como diria um especialista em aeronáutica, “um avião
não cai devido a uma única falha”.
Todos nós
falhamos por não exigir condições mínimas de segurança quando pagamos por um
serviço. A certeza que circula por todo o Brasil é que esta não é a única casa
de espetáculos em situação precária em nosso país. É preciso que as autoridades
mudem a legislação, criem normas modernas, e as fiscalizem, para viabilizar a
segurança em todos os ambientes em que se reúnam um grande número de pessoas.
É inconcebível
que em pleno século XXI ainda se utilizem de métodos medievais de cobrança de
dívidas em casas de espetáculos. Empresários da noite que se preocupam com
segurança viabilizam o pagamento adiantado dentro das casas de espetáculo. Não
se recomenda que pessoas fiquem trancadas dentro destes ambientes apertados,
abafados e escuros por possuírem uma dívida que só pode ser paga “a
posteriori”.
O desastre que
aconteceu em Santa Maria, no R. G. do Sul, é de enormes proporções, pois
equivale a um acidente maior do que a colisão de dois aviões “Boeing 737”, onde
não sobreviveu praticamente ninguém. É preciso que haja fiscalização nestes
ambientes quanto à segurança, quanto ao cumprimento de normas ambientais, e a
facilidade da evacuação de pessoas em casos de acidentes. E se precisarem ser
abafados estes ruídos que o sejam com materiais que não propaguem chamas e nem
liberem gases tóxicos, para não se transformarem com a propagação de fogo em
verdadeiras câmaras de gás.
O choro de todo o país,
inclusive de nossa presidenta, é pela nossa omissão, diante do que está errado,
ter negado um futuro talvez brilhante, a jovens que morreram empilhados em desespero,
relembrando as câmaras de gás dos campos de concentração nazistas na segunda
guerra mundial. Somos todos coniventes com a falta de segurança em que vivemos.
Nenhuma família merece isso, é hora de dar um basta, e que Santa Maria tenha
piedade de nós.
Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia em 31/01/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário