sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Santa Maria....


É madrugada de sábado para domingo, enquanto todos descansam o fim de semana dos justos, mais uma tragédia anunciada entrava para a história dos grandes desastres de nosso país. Na boate Kiss em Santa Maria no Rio Grade do Sul, se reuniam em uma festa de jovens universitários, mais de 900 pessoas, num local em que foi declarado que só caberiam pouco mais de 400 pessoas.

Um dos membros da banda Gurizada Fandangueira, que animava a balada, resolveu adicionar um pouco de adrenalina àquele local escuro, apertado e isolado acusticamente com materiais altamente inflamáveis, que produzem letais gases tóxicos ao se queimarem. A brilhante ideia de um dos membros da banda fandangueira foi acender sinalizadores e fazer deles elemento de acrobacia e pirotecnia para animar a festa.

Fagulhas dos sinalizadores atingiram os elementos de decoração e isolação acústica, produzindo fogo que se espalhou rapidamente pelo local. Somem-se à tragédia, extintores que não funcionam e pessoas sendo impedidas de deixar o local por seguranças que formam uma barreira de brutamontes exigindo o pagamento das “comandas” de quem saía às pressas. Muitos impedidos de sair tentaram se esconder nos banheiros.

Estes foram os elementos do desastre que matou mais de duas centenas de jovens, e mandou outra centena em estado crítico, para o hospital, a grande maioria deles universitários. O Brasil ainda chora e todos nós choramos, porque poderiam ser os nossos filhos. Uma sequencia imperdoável de erros provocou esse desastre de monstruosas proporções. Como diria um especialista em aeronáutica, “um avião não cai devido a uma única falha”.

Todos nós falhamos por não exigir condições mínimas de segurança quando pagamos por um serviço. A certeza que circula por todo o Brasil é que esta não é a única casa de espetáculos em situação precária em nosso país. É preciso que as autoridades mudem a legislação, criem normas modernas, e as fiscalizem, para viabilizar a segurança em todos os ambientes em que se reúnam um grande número de pessoas.

É inconcebível que em pleno século XXI ainda se utilizem de métodos medievais de cobrança de dívidas em casas de espetáculos. Empresários da noite que se preocupam com segurança viabilizam o pagamento adiantado dentro das casas de espetáculo. Não se recomenda que pessoas fiquem trancadas dentro destes ambientes apertados, abafados e escuros por possuírem uma dívida que só pode ser paga “a posteriori”.

O desastre que aconteceu em Santa Maria, no R. G. do Sul, é de enormes proporções, pois equivale a um acidente maior do que a colisão de dois aviões “Boeing 737”, onde não sobreviveu praticamente ninguém. É preciso que haja fiscalização nestes ambientes quanto à segurança, quanto ao cumprimento de normas ambientais, e a facilidade da evacuação de pessoas em casos de acidentes. E se precisarem ser abafados estes ruídos que o sejam com materiais que não propaguem chamas e nem liberem gases tóxicos, para não se transformarem com a propagação de fogo em verdadeiras câmaras de gás.

O choro de todo o país, inclusive de nossa presidenta, é pela nossa omissão, diante do que está errado, ter negado um futuro talvez brilhante, a jovens que morreram empilhados em desespero, relembrando as câmaras de gás dos campos de concentração nazistas na segunda guerra mundial. Somos todos coniventes com a falta de segurança em que vivemos. Nenhuma família merece isso, é hora de dar um basta, e que Santa Maria tenha piedade de nós.

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia em 31/01/2013

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