terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O cobertor está curto?

Em nosso país é de conhecimento de todos a precarização de nosso ensino fundamental e médio públicos em detrimento do ensino privado nesse nível. Com essa precarização os professores de ensino fundamental e médio perderam muito com salários aviltados e padrão de vida aquém do necessário para treinar uma sociedade civilizada, com isso nossos jovens não se interessam mais pela carreira e não possuem a mínima vontade de terem uma profissão que não lhes dá a mínima dignidade para viverem em uma sociedade moderna. 

Os nossos políticos acenam com a necessidade de melhora no ensino nos níveis fundamental e médio da escola pública. E que esta melhora passa sem dúvida pelo estimulo financeiro de seus profissionais. Mas por outro lado precarizam a carreira docente nas escolas técnicas e nas universidades públicas. Isso é um contrassenso pois se a carreira nas escolas técnicas e nas universidades é atraente seria bom mantê-las como estão e fazer com que as escolas de ensino fundamental e médio públicas tivessem docentes com carreira tão atraente quanto os níveis superiores.

O que nos parece é que o cobertor está curto, pioram de uns para melhorar o de outros níveis, nivelam por baixo o que deveria ser nivelado por cima em sua totalidade. Alertas devem ser emitidos para que não se diga que os nossos jovens se desinteressaram pela carreira docente. A situação de nosso ensino é crítica e já reflete na capacidade de fornecer profissionais de qualidade para a indústria e serviços. Se nenhum programa sério for criado para estimular nossos jovens a se interessarem pelo magistério temos como resultado uma deficiência muito grande de gente capacitada para o trabalho em todos os níveis.

Sem mencionar a dificuldade de se encontrar jovens mestres de qualidade interessados em ministrar disciplinas importantes como Matemática, Física, Química, Biologia e Ciências. Isto, não pela inexistência deste recurso humano, mas pelo desinteresse dos mesmos em viver uma carreira desprestigiada e sem nenhum respeito da sociedade, onde o dia a dia é permeado por dificuldade de todo tipo desde a inexistência de um ambiente de trabalho com o mínimo de conforto até a distância de nossas escolas públicas da realidade tecnológica do Século XXI.

Bibliotecas e laboratórios completamente desaparelhados de recursos técnicos de ensino, onde a criatividade do professor tenta superar as barreiras quase intransponíveis da inexistência de recursos materiais. Além de um quadro desesperador desses, soma-se o descaso da sociedade para com o bem público, essa falta de apreço é retratada pela quantidade de vezes que nossas escolas públicas são assaltadas, com professores vendo seus parcos recursos de ensino serem levados por amigos do alheio. Sem contar as notícias, todos os anos, do número de escolas públicas que possuem instalações tão envelhecidas que não se recomenda sua ocupação no início de um novo ano letivo.

O desafio é fazer com que, num cenário desses, professores estejam motivados e felizes com a realidade que vivem todos os dias. Como conseguir isso? Suas dificuldades vão desde o transporte de casa para a escola até os recursos materiais que possuem à sua disposição para realizar o seu trabalho de formar cidadãos. Um professor tem que ter uma renda mínima para se manter atualizado, poder sonhar e se informar à frente do seu tempo. Um professor precisa fazer sonhar, mas como fazer isso se nem ele mesmo sonha mais com dias melhores?

Publicado na Coluna Ponto de Vista
Jornal Correio de Uberlândia
Data: 24/02/2015

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