Não vou citar nomes neste texto, pois esta é mais uma história como tantas outras de dificuldades de estudantes que vieram buscar o futuro em nossa cidade. Tenho certeza que quem o conheceu ao ler esta homenagem saberá de quem se trata. Ele veio para Uberlândia estudar como muitos jovens esperançosos e cheios de vinda, em busca de um futuro melhor, nos meados da década de 70 do século passado. No final deste ano lá se vão 40 anos. Ele veio de Santos, São Paulo, com muita dificuldade, pouco dinheiro, onde o pai, que trabalhava na administração do serviço de estiva no porto, e a mãe muito rigorosa o educaram para uma vida honesta e cheia de sacrifícios. Fez o vestibular e passou para Engenharia Elétrica.
Foi trabalhar em uma empresa de engenharia como
desenhista, onde em meio a todo a ferramental de engenharia ainda poderia
sobrar um tempinho para estudar. Afinal de contas ele estava no meio que havia
escolhido como profissão. Trabalhava muito, longas horas em cima da prancheta, os
estudos na FFEU - Faculdade Federal de Engenharia de Uberlândia, o futebol de
salão e os novos amigos longe da terra natal fizeram com que ele aprendesse a
amar a terra que havia escolhido para vir estudar. Devido aos sacrifícios foi
um homem de vida espartana, muito simples e humilde entregou o melhor de si
sempre em tudo o que fez.
Este homem foi meu colega em algumas disciplinas do
curso de graduação em Engenharia, e entre algumas passagens de nossa riqueza de
saudáveis estudantes pobres me lembro de uma passagem, com este colega, que
ficou bastante marcada em minha mente. Nos idos de 1975 estávamos na cantina no
intervalo de aulas, e ambos tínhamos um dilema, o dinheiro que tínhamos daria
para voltar de ônibus para casa ou comprar um quitute na cantina e voltar a pé.
Combinamos então que cobriríamos a pé no fim do dia os 3 km que separavam a
Faculdade Federal de Engenharia de Uberlândia, hoje Campus Santa Mônica da UFU,
do centro da cidade. E assim voltamos felizes para casa caminhando, conversando
e contando um com o apoio do outro.
Este homem de hábitos simples, após cinco anos de
estudos e a formatura, passou a trabalhar como Professor Auxiliar na faculdade
que o abrigara nos últimos anos. Sempre muito dedicado foi recrutado pelos seus
superiores para fazer o mestrado na EFEI – Itajubá, hoje UNIFEI e depois o
doutorado pela UNICAMP. Formou uma bela família, com um casal de filhos, que
passaram a ser junto com a esposa e o trabalho sua razão de viver. Junto com a docência, trabalhou como
engenheiro do setor de manutenção elétrica e junto com projetos de economia de
energia para a UFU, desenvolveu também projetos filantrópicos em nossa cidade.
Orientou estudantes de mestrado que o respeitavam pelo conhecimento, humildade
e simplicidade.
Faço esta homenagem a este colega, do qual fomos
privados do convívio material, e a poucos dias da merecida aposentadoria,
combalido pelas doenças do corpo material, se recusou a aposentar por
invalidez. Para ele seria uma desonra tal sorte, após tantos anos de dedicação.
E em um dia de abril de 2012 após a defesa de um de seus estudantes de
mestrado, para o qual ele foi trazido ao trabalho pela esposa com muita
dificuldade para registrar nesta ata de defesa de mestrado, o último ato
oficial de sua vida; ele voltou para casa e desde dia para o dia seguinte se
foi para sempre acompanhado por anjos de luz, sem nenhuma honraria, descansou
sem dar tempo sequer de se aposentar, sem nos deixar agradecer pelo convívio.
Com a maior sinceridade faço esta tardia, porém singela homenagem a você meu
colega Professor DB.
Texto publicado em 10/10/2013
Jornal Correio de Uberlândia
Coluna Ponto de Vista
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