Todos nós saímos de
vez em quando e vamos a um restaurante ou a um bar que tem música ao vivo. Sou
um animal que observa, e me causa estranheza observar trabalhadores da noite,
quando se trata de remuneração, que não são tratados com dignidade pelos seus
patrões. Nos restaurantes e bares dedico especial atenção aos músicos e garçons
que entre outras pessoas trabalham na hora em que a maioria das pessoas está se
divertindo.
Quando vem a conta da
despesa do restaurante, lá está os 10% do garçom e o “couvert” artístico do
músico, mas a pergunta que não quer calar é: - Como este dinheiro é repassado
para os seus verdadeiros donos? Os garçons ou garçonetes que nos serviram com o
seu sorriso e sua atenção e os músicos que tocaram a canção que muitas vezes
marca aquele momento para o resto de nossas vidas, e raras são as pessoas que
percebem que eles existem.
Será que esses
trabalhadores recebem todo o dinheiro que deixamos nesses estabelecimentos com
a certeza de que vão chegar até eles? Como sou uma pessoa que observa, certa
vez ao receber a conta, em que constava o “couvert artístico” e os 10% do garçom,
percebi que a desorganização era tanta que este valor estava sendo cobrado até
em cima do “couvert” dos músicos. Como se o “couvert artístico” fosse servido
na bandeja pelos garçons e os músicos não existissem.
A partir daí comecei
a perceber que aquele dinheiro era uma grana extra que entra para o caixa do
restaurante e que nem sempre é repartido de forma organizada com quem de direito.
Em entrevista com músicos e garçons percebe-se que muitas vezes paga-se essas
despesas agregadas à conta do bar ou restaurante, e os merecedores do crédito
recebem valores fixos por noite muito aquém do valor variável que entra via pagamento
feito pelos clientes.
Precisamos, portanto
estabelecer regras e fiscalizar se esses trabalhadores estão recebendo o que de
fato merecem. Alguns sugerem até que esses valores sejam pagos diretamente aos
músicos e garçons pelos próprios clientes. Mas existe sempre a dificuldade de
não se ter o dinheiro em espécie para recompensá-los no momento do pagamento,
pois a grande maioria dos pagamentos é feita com dinheiro de plástico. É
preciso criar mecanismos legais e tecnológicos para que esses trabalhadores
recebam remuneração sobre os clientes que de fato atenderam. O ECAD fiscaliza o
que e quanto se toca, mas não fiscaliza o quanto se recebe para tocar, tudo
isso é muito cômodo.
Nossos vereadores
precisam estudar uma forma legal de fazer com que não exista aqui este tipo de
injustiça, e que não se escute mais a boca pequena que em nossa cidade músicos
e garçons não recebem proporcionalmente aos gastos de clientes em
estabelecimentos comerciais que não teriam vida se não fossem esses
trabalhadores.
Olhando pelo ponto de
vista moral, este é um desvio que pode ser corrigido e que traria melhoria de
vida substancial a estas pessoas que nos servem sem um contrato de trabalho. A
dignidade no trabalho não é somente ser tratado com urbanidade, mas é receber
uma remuneração digna pelo trabalho bem feito. A autoestima também passa pela
boa recompensa do trabalho assalariado que permitirá ao trabalhador dar aos
seus entes queridos melhores condições de vida, se é válido para cada um de
nós, também é válido para todos os trabalhadores.
Numa época em que
cada um pensa primeiramente em si, é premente que o legislador e o estado pensem
no próximo, para que distorções sejam corrigidas e que os recursos cheguem a
quem de direito. É cultural e histórico em nosso país aqueles que trabalham não
receberem a plena recompensa. Fica assim o nosso apelo para que um “mea culpa”
seja feito e que passemos a tratar estes trabalhadores que nos servem em muitas
ocasiões com a distinção que merecem.
Publicado
na Coluna Ponto de Vista
Jornal
Correio de Uberlândia
em
15/04/2013
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